terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Henri Wallon


Biografia de Henri Wallon
- Henri Paul Hyacinthe Wallon.
- Nasceu em 15 de junho de 1879 em Paris (França).
- Tornou-se conhecido por seu trabalho científico sobre Psicologia do Desenvolvimento, devotado principalmente à infância, em que assume uma postura notadamente interacionista, e por sua atenção política e posicionamento marxista.
- Integrou a vida científica à ação social, numa atitude de coerência e engajamento. Viveu em um período marcado por muita instabilidade social e turbulência política ( 1ª Guerra Mundial – 1014/1918 e 2ª Guerra Mundial – 1939/1945). Para Wallon ficou muito evidente a influência fundamental que o meio social exerce sobre o desenvolvimento da pessoa humana. Esta influência recebeu lugar de destaque em sua teoria.
- 1902 (aos 23 anos de idade) formou-se em Filosofia. Como professor discordava dos autoritários métodos empregados para controle disciplinar.
- 1908 formou-se em Medicina. Entre 1908 a 1931 trabalhou com crianças portadoras de deficiência mental.
- 1909 publicou o 1º trabalho: “Delírio de Perseguição. O Delírio Crônico na Base da Interpretação”.
- 1925 :Tese de Doutorado “A Criança Turbulenta”, iniciando um período de intensa produção literária na área da Psicologia da Criança.
- 2ª Guerra Mundial – 1939/1945 foi perseguido pela Gestapo, tendo que viver na clandestinidade.
- 1935: visitou o Brasil.
- 1962 : faleceu em 01 de dezembro de 1962, aos 83 anos, em seu país de origem.

Posições Teóricas de Henri Wallon

- O processo de aprendizagem é dialético: não é adequado postular verdades absolutas, mas, sim, revitalizar direções e possibilidades.
- Admite o organismo como condição primeira do pensamento, afinal toda função psíquica supõe um equipamento orgânico. Adverte, contudo, que não lhe constitui uma razão suficiente, já que o objeto da ação mental vem do exterior, isto é, do grupo ou ambiente no qual o indivíduo se insere. Entre os fatores da natureza orgânica e os da natureza social as fronteiras são tênues, é uma complexa relação de determinação recíproca. O homem é determinado fisiológica e socialmente, sujeito, portanto, a uma dupla histórica, a de suas disposições internas e a das situações exteriores que encontra ao longo de sua existência.
- A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social.
- Critica as concepções reducionistas que limitam a compreensão do psiquismo humano a um ou a outro termo da dualidade espírito-matéria. A teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa, tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e motor. Para ele, a cognição é importante, mas não mais importante que a afetividade ou a motricidade. Wallon recusa-se a selecionar um único aspecto do ser humano e isolá-lo do conjunto. Propõe o estudo integrado do desenvolvimento, ou seja, que este abrarque todos os campos funcionais nos quais se distribui as atividades infantis (afetividade, motricidade e inteligência).
- A existência do homem, ser indissociavelmente biológico e social, se dá entre as exigências do organismo e as da sociedade, entre os mundos contraditórios da matéria viva e da consciência. O estudo do psiquismo não deve, portanto, desconsiderar nenhum desses fatores, em tampouco tratá-los como termos independentes; deve ser situado entre o campo das ciências naturais e sociais.
- Ao contrário à visão localizacionista Wallon defendia a idéia da plasticidade do sistema nervoso.
- Recorreu a dados provenientes de outros campos de conhecimento como Neurologia, Psicopatologia, Antropologia e a Psicologia Animal.
- Devido à adequação às características do seu objeto, Wallon adota o Materialismo Dialético como método de análise e fundamento epistemológico de sua teoria psicológica, uma psicologia dialética.
- O desenvolvimento tem uma dinâmica e um ritmo próprio, resultantes da atuação de princípios funcionais que são:
a) Fatores Orgânicos - responsáveis pela sequência que se verifica entre os estágios do desenvolvimento. Podem tem seus efeitos transformados pelas circunstâncias sociais.
b) Fatores Sociais - a influência do meio social torna-se decisiva na aquisição de condutas psicológicas superiores, como a inteligência simbólica. É a cultura e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para sua evolução.
- A passagem de um estágio ao outro não é uma simples ampliação (não é linear, por ampliação), mas uma reformulação. Com frequência instala-se, nos momentos de passagem, uma crise que pode afetar visivelmente a conduta da criança.
- O desenvolvimento infantil é um processo pontuado por conflitos, sejam eles exógenos (externos) ou endógenos (internos). Isto desorganiza, conturba, desequilibra as formas de conduta que já tinham atingido certa estabilidade na relação do sujeito com o meio. Wallon vê os conflitos como propulsores do desenvolvimento.
- A descrição que Wallon faz dos estágios é descontinua e assistemática. Este autor elege um tipo de atividade como foco principal e procede mostrando suas características em diferentes idades e delineando suas relações com outros tipos de atividades.
- O desenvolvimento da pessoa é uma construção progressiva em que se sucedem fases como predominância alternadamente afetiva e cognitiva. Frequentemente, os períodos predominantemente afetivos ocorrem em fases focadas na construção do EU , enquanto que estágios com predominância cognitiva estão mais direcionados à construção do REAL e compreensão do mundo físico.
Para uma compreensão mais concreta dessa idéia, a Psicogenética Walloniana apresenta uma descrição das características centrais de cada um dos cinco estágios do desenvolvimento humano:
a) Estágio Impulsivo-emocional: presente desde o nascimento até aproximadamente o primeiro ano de vida. É um estágio predominantemente afetivo, no qual as emoções são o principal instrumento de interação com o meio. Consiste na preparação das condições sensório-motoras. O movimento, como campo funcional, ainda não está desenvolvido. Até então os movimentos infantis são um tanto desordenados, mas a contínua respostas do ambiente a este movimento permite que a criança passe da desordem gestual às emoções diferenciadas.
b) Estágio Sensório-motor e Projetivo: presente dos três meses de idade até aproximadamente o terceiro ano de vida. Ao contrário do estágio anterior, neste predominam as relações cognitivas com o meio (inteligência prática-simbólica). Os pensamentos, neste estágio, muito comumente se projetam em atos motores.
INTELIGÊNCIA: Inteligência Prática (obtida pela interação de objetos com o próprio corpo).
Inteligência Discursiva (adquirida pela imitação e apropriação da linguagem).
c) Estágio do Personalismo: compreende a faixa etária dos três aos seis anos. A tarefa central é o processo de formação da personalidade e da auto-consciência, definindo o retorno da predominância das relações afetivas. Uma consequência do caráter auto-afirmativo deste estágio é a crise negativista ( a criança opõe-se sistematicamente ao adulto). Observa-se também uma fase de imitação motora e social.
d) Estágio Categorial: inicia-se aos seis anos e vai até aproximadamente até os onze anos de idade .Traz importantes avanços no plano da inteligência, imprimindo às relações com o meio preponderância do aspecto cognitivo. É o período de acentuada predominância da inteligência sobre as emoções. Aqui a criança desenvolve as capacidades de memória e atenção voluntárias.
Formam-se as Categorias Mentais : conceitos abstratos que abarcam vários conceitos concretos sem se prender a nenhum deles.
No Estágio Categorial o poder de abstração da mente da criança é consideravelmente ampliado e, provavelmente por este fato, o raciocínio simbólico se consolida como ferramenta cognitiva.
e) Estágio da Adolescência: aproximadamente aos 11\ 12 anos, o sujeito começa a passar por transformações físicas e psicológicas da adolescência. Este é um estágio predominantemente afetivo, durante o qual o sujeito vivencia uma série de conflitos internos e externos. Os grandes marcos deste são a busca de auto-afirmação e o desenvolvimento da sexualidade (questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona).
- O predomínio do caráter intelectual corresponde às etapas em que a ênfase está na elaboração do real e no conhecimento do mundo físico. A dominância do caráter afetivo corresponde às etapas que se prestam à construção do real.
- Os estágios de desenvolvimento não se encerram com a adolescência. O processo da aprendizagem sempre implica na passagem para um novo estágio. O processo dialético de desenvolvimento jamais se encerra, pois a emoção sobrepõe-se à razão quando o sujeito se depara com o desconhecido. Desta forma, afetividade e emoção não são estanques e se revelam na dominância dos estágios.
- Princípio da Alternância Funcional: Cada nova fase inverte a orientação da atividade e do interesse do sujeito: do EU para o MUNDO, das PESSOAS para as COISAS. Apenas por alterarem a dominância, efetividade e cognição não se mantêm como funções exteriores uma a outra. Cada uma, ao aparecer como atividade predominante em um estágio, incorpora as conquistas realizadas pela outra.
- Princípio da Integração Funcional: É o princípio que explica a construção recíproca entre a afetividade e a cognição. Este princípio e extraído do processo de maturação do sistema nervoso, no qual as funções mais evoluídas, de amadurecimento mais recente, não suprimem as mais arcaicas/antigas, mas exercem sobre estas o controle.

O Desenvolvimento Infantil

- É possível identificar em cada etapa da vida de uma pessoa características distintas (necessidades e interesses). A cada idade estabelece-se um tipo de interação entre a criança e o meio. Conforme as características de cada idade a criança interage mais com um ou outro fator.( ambiente físico, pessoas próximas, linguagem, conhecimentos culturais). O meio não é estático e transforma-se juntamente com a criança.
Conflitos EU-OUTRO e a Construção da Pessoa
- O ser humano está alicerçado em algumas atividades cognitivas, isto, em campos que agrupam a diversidade psíquica.
- Campos Funcionais: movimento, afetividade, inteligência e a pessoa.
Estes campos vão se diferenciando ao longo do desenvolvimento da pessoa, tornando-se independentes.
O ser humano é considerado por si só como campo funcional, pois integra todas essas atividades.
A – Movimento
- É considerado um dos primeiros campos a se desenvolver, servindo de base para os s outros campos posteriores.
- As emoções dependem fundamentalmente da organização dos campos para se organizarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação.
- A escola não deve “imobilizar” a criança em uma carteira, limitando justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessária para o desenvolvimento completo da pessoa.
- O desenvolvimento da inteligência depende essencialmente de como cada criança faz as diferenciações com a realidade exterior.
B – Afetividade
- A afetividade é um dos princípios elementos do desenvolvimento humano.
-As transformações fisiológicas de uma criança (transformações em seu sistema neurogevetativo) revelam traços importantes de caráter e personalidade. Segundo Heloysa Dantas (FEUSP) “a emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o tônus muscular ; há momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a se conhecer.”
- A raiva, a alegria, o medo e os sentimentos mais profundos ganham função relevante na relação da criança com o meio. - A emoção causa impacto no outro e tende a se propagar no meio social.
- A afetividade é o fator fundamental nas relações sociais, ponto crucial que separa a criança do ambiente.
C - Inteligência
- A proposta Walloniana propõe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais humanizada.
- Esta abordagem considera a pessoa como um todo. Elementos com afetividade, emoções, movimento e espaço físico se encontram em um mesmo plano.
D - Pessoa
- Este campo está relacionado ao desenvolvimento da consciência e da identidade do EU.
- A construção do EU depende essencialmente do OUTRO, seja para ser referência ou para ser negado.
- Crise de Oposição: momentos em que, a negação do outro, funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si mesmo. Ocorre por volta do 3 anos de idade. Características comuns nesta fase:
Manipulação (agredir ou se jogar no chão para atingir um objetivo).
Sedução (fazer chantagem emocional).
Imitação do outro.
- Também podem ser considerados elementos estimuladores da construção do EU: dor, ódio e sofrimento.

Para Saber +



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Bibliografia
GALVÃO, Izabel. Henri Wallon – Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis, R.J.: Vozes, 1995.

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