quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Lev Semenovich Vygotsky

BIOGRAFIA

1896: Nasce Lev Semenovich Vygotsky em 17/11, na Bielarus. Família judia.
1911: Ingressa pela primeira vez em uma instituição escolar, após anos de instrução com tutores particulares.
1913: Forma-se no Curso Secundário. Ingressa na Universidade de Moscou, no curso de Direito.
1914: Frequenta aulas de História e Filosofia.
1917: Forma-se em Direito.
Revolução Russa.
1917 – 1923: Leciona Literatura e Psicologia.
1920: Toma conhecimento que está Tuberculoso.
1924: Conferência no II Congresso de de Psiconeurologia de Leningrado, marco importante em sua carreira profissional. Inicia o trabalho no Instituto de Psicologia de Moscou.
1925: “Psicologia da Arte” – publicado em Moscou em 1965. Viaja para o exterior pela primeira e única vez em sua vida.
Organiza o Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes.
1929 - Instituto de Estudos das Deficiências.
Após 1934 - Instituto Científico de Pesquisa sobre deficiências da Academia de Ciências Pedagógicas.
1943: Morre de tuberculose, em 11/06, aos 37 anos de idade.
1962: Publicação do livro “Pensamento e Linguagem” nos Estados Unidos.
1982- 1984: Edição das obras completas de Vygotsky na URSS.
1984: Publicação da coletânea “A Formação Social da Mente” no Brasil.
1987: Publicação de “Pensamento e Linguagem” no Brasil.
1988: Publicação de “Aprendizagem e Desenvolvimento Intelectual na Idade Escolar” no Brasil.
- Trabalhou também na área chamada Pedologia (Ciência da criança que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos).
- Escreveu aproximadamente 200 trabalhos científicos, cujos temas vão desde a Neuropsicologia até a crítica literária, passando pela deficiência, linguagem, psicologia, educação e questões teóricas e metodológicas relativas às ciências humanas.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

- Vygotsky, Luria e Leontiev faziam parte de um grupo de intelectuais da Rússia pós-Revolução que tinha por objetivo a busca do “novo”, de uma ligação entre a produção científica e o regime social recém-implantado.
O grupo buscava a construção de uma “Nova Psicologia”, que consistisse em uma síntese entre as duas fortes tendências presentes na Psicologia do início do século:
- Psicologia como ciência natural.
- Psicologia como ciência mental.
Síntese : Não é a simples soma ou justaposição de dois elementos, mas a emergência e algo novo, anteriormente inexistente.Esse componente novo não estava presente nos elementos iniciais: Foi tornado possível pela interação entre esses elementos.
- Assim, a abordagem que busca uma síntese para a Psicologia integra, numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e mente, ser biológico e ser social, membro da espécie humana e participante de um processo histórico.
- Essa nova abordagem para a Psicologia fica explícita em três idéias centrais que podemos considerar como os “Pilares” básicos do pensamentos de Vygotsky:
A) As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral.
B) O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre os indivíduos e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico.
C) A relação do homem com o mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.
- A postulação de que o cérebro, como órgão material, é a base biológica do funcionamento psicológico toca um dos extremos da Psicologia: o homem, enquanto espécie biológica, possui uma existência material que define limites e possibilidades para o seu desenvolvimento.
- O cérebro, no entanto, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual.
- Dadas as imensas possibilidades de realização humana, essa plasticidade é essencial: o cérebro pode servir a novas funções, criadas na história do homem, sem que sejam necessárias transformações no órgão físico.
- Essa idéia da grande flexibilidade não supõe um caos inicial, mas sim a presença de uma estrutura básica estabelecida ao longo da evolução da espécie, que cada um de seus membros traz consigo ao nascer.
- Outro pressuposto do trabalho de Vygotsky aponta que o homem transforma-se de biológico em sócio-histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana.
- O funcionamento psicológico, particularmente no que se refere às Funções Psicológicas Superiores, tipicamente humanas, está baseado fortemente nos modos culturalmente construídos de ordenar o real.
Funções Psicológicas Superiores - mecanismos psicológicos mais sofisticados, mais complexos, que são típicos do ser humano e que envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presentes. Funções Psicológicas Superiores (ou processos mentais superiores): pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas.
Mecanismos mais Elementares - Ações Reflexas, Reações Automatizadas ou Processos de Associação Simples entre Eventos.

MEDIAÇÃO SIMBÓLICA

- Um conceito central para compreendermos o fundamento sócio-histórico do funcionamento psicológico é o conceito de MEDIAÇÃO: a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada, sendo os sistemas simbólicos os elementos intermediários entre o sujeito e o mundo.
- Esse modo de funcionamento psicológico (Funções Psicológicas Superiores), típico da espécie humana, não está presente no indivíduo desde o nascimento. As atividades psicológicas mais sofisticadas são frutos de um processo de desenvolvimento que envolve a interação do organismo individual com o meio físico e social em que vive. A aquisição da linguagem definirá um salto qualitativo no desenvolvimento do ser humano.
- MEDIAÇÃO: em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação. A relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. A presença de elementos mediadores introduz um elo a mais nas relações entre organismo e meio, tornando-as mais complexas. Ao longo do desenvolvimento do indivíduo as relações mediadas passam a predominar sobre as relações diretas.
- A relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, uma relação mediada. As Funções Psicológicas Superiores apresentam uma estrutura tal que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da atividade humana.
- Vygotsky distinguiu dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos. Embora exista uma analogia entre esses dois tipos de mediadores, eles têm características bastante diferentes e merecem ser tratados separadamente.

O USO DOS INSTRUMENTOS

- A importância dos instrumentos na atividade humana, para Vygotsky, tem ligação com sua filiação teórica aos postulados marxista. Vygotsky busca compreender as características do homem através do estudo da origem e desenvolvimento da espécie humana, tomando o surgimento do trabalho e a formação da sociedade humana, com base no trabalho, como sendo processo básico que vai marcar o homem como espécie diferenciada. É o trabalho que, pela ação transformadora do homem sobre a natureza, une o homem e natureza e cria a cultura e a história humana. No trabalho desenvolvem-se, por um lado, a atividade coletiva e, portanto, as relações sociais, e, por outro lado, a criação e utilização de instrumentos.
- O instrumento, externo ao sujeito, é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. O instrumento é feito ou buscado especialmente para um certo objetivo. Ele carrega consigo, portanto, a função para a qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. É, pois, um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.

O USO DOS SIGNOS

- A invenção e a utilização dos signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar ou comprar coisas) é análoga à invenção e uso dos instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel do instrumento no trabalho.
- Os instrumentos são elementos externos ao sujeito, voltados para fora dele, e sua função é provocar mudanças nos objetos, controlar processos da natureza. Os signos, por sua vez, também chamados por Vygotsky de “instrumentos psicológicos”, são orientados para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. São ferramentas auxiliares nos processos psicológicos e não nas ações concretas, como os instrumentos.
- A memória mediada por signos é mais poderosa que a memória não mediada.
- São inúmeras as formas de utilizar os signos como instrumentos que auxiliam no desempenho de atividades psicológicas e melhoram nossas possibilidades de armazenamento de informações (lista de compras por escrito, mapa para encontrar um local, dar um nó no dedo para não esquecer um compromisso).
- O uso de mediadores aumentou a capacidade de atenção e de memória e, sobretudo, permitiu maior controle voluntário do sujeito sobre sua ação.
- Os processos de mediação também sofrem transformações ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Justamente por constituírem funções psicológicas mais sofisticadas, os processos mediadores vão se construindo ao longo do desenvolvimento, não estando ainda presentes nas crianças.

OS SISTEMAS SIMBÓLICOS E O PROCESSO DE INTERNALIZAÇÃO

- Ao longo da evolução da espécie humana (desenvolvimento filogenético) e do desenvolvimento de cada indivíduo (desenvolvimento ontogenético), ocorrem duas mudanças qualitativas fundamentais no uso dos signos. Por um lado, a utilização de marcas externas vai se transformar em processos internos de mediação; esse mecanismo é chamado, por Vygotsky, de processo de internalização. Por outro lado, são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas.
- Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externa e passa a utilizar signos internos, isto é, representações mentais que substituem os objetos do mundo real. Os signos internalizados são, como as marcas exteriores, elementos que representam objetos, eventos situações.
- A própria idéia de que o homem é capaz de operar mentalmente sobre o mundo – isto é, fazer relações, planejar, comparar, lembrar – supõe um processo de representação mental. Temos conteúdos mentais que tomam o lugar dos objetos, as situações e dos eventos do mundo real.
- A capacidade de lidar com representações que substituem o próprio real é que possibilita ao homem liberta-se do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, imaginar, fazer planos e ter intenções. Essas possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo, libertando o homem da necessidade da interação concreta com os objetos do seu pensamento.
- Quando trabalhamos com os processos superiores que caracterizam o funcionamento psicológico tipicamente humano, as representações mentais da realidade exterior são, na verdade, os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo. É justamente a origem dessas representações que Vygotsky está buscando quando nos remete à criação e o uso dos instrumentos e dos signos externos como mediadores da atividade humana.
- Ao longo da história da espécie humana – onde o surgimento do trabalho propicia o desenvolvimento da atividade coletiva, das relações sociais e do uso de instrumentos – as representações da realidade têm se articulado em sistemas simbólicos. Isto é, os signos não se mantêm como marcas externas isoladas, referentes a objetos avulsos, nem como símbolos usados por indivíduos particulares. Passam a ser compartilhados pelo conjunto de membros do grupo social, permitindo a comunicação entre os indivíduos e o aprimoramento da interação social.
- Os sistemas de representação da realidade – e a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos – são, portanto, socialmente dados. É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo. Enquanto mediadores entre o individuo e o mundo real, esses sistemas de representação da realidade consistem numa espécie de “filtro” por meio do qual o homem será capaz de ver o mundo e operar sobre ele.
- É a partir de sua experiência com o mundo e com o contato com as formas culturalmente determinadas de organização do real (e com os signos fornecidos pela cultura) que os indivíduos vão construir seu sistema de signos, o qual consistirá numa espécie de “código” para a decifração do mundo.
- Os grupos culturais em que as crianças nascem e se desenvolvem funcionam no sentido de produzir adultos que operam psicologicamente de uma maneira particular, de acordo com os modos culturalmente construídos de ordenar o real. A dimensão sociocultural do desenvolvimento humano não se refere apenas a um amplo cenário, um pano de fundo onde se desenrola a vida individual. Isto é, quando Vygotsky fala em cultura não está se reportando apenas a fatores abrangentes como o país onde o indivíduo vive, seu nível sócio-econômico, a profissão de seus pais. Está falando sim do grupo cultural como fornecendo ao indivíduo um ambiente estruturado, onde todos os elementos são carregados de significação. Toda vida humana está impregnada de significações e a influência do mundo social se dá por meio de processos que ocorrem em diversos níveis.
- Há uma multiplicidade de fatores que define qual é o mundo em que o indivíduo vai se desenvolver.
- A interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel fundamental na construção do ser humano: é por meio da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo chegará a interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Portanto, a interação social, seja diretamente com outros membros da cultura, seja por meio dos diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
- A cultura não é pensada como algo pronto, um sistema estático ao qual o indivíduo se submete, mas como uma espécie de “palco de negociações”, em que seus membros estão em um constante movimento de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados. A vida social é um processo dinâmico, onde cada indivíduo é ativo e onde acontece a interação entre mundo cultural e mundo subjetivo de cada sujeito. Neste sentido, Vygotsky postula a interação entre vários planos históricos: a história da espécie (filogênese), a história do grupo cultural, a história do organismo individual da espécie (ontogênese) e a sequência singular de processos e experiências vividas por cada indivíduo.
- O processo pelo qual o indivíduo internaliza a matéria-prima fornecida pela cultura não é, pois, um processo de absorção passiva, mas de transformação, de síntese. Esse processo é, para Vygotsky, um dos principais mecanismos a serem compreendidos no estudo do ser humano. É como se, ao longo de seu desenvolvimento, o indivíduo, “tomasse posse” das formas de comportamento fornecidas pela cultura, num processo em que as atividades externas e as funções interpessoais transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas.
- O processo de desenvolvimento do ser humano, marcado por sua inserção em determinado grupo cultural, se dá “de fora para dentro”. Primeiramente o indivíduo realiza ações externas, que são interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação é que será possível para o indivíduo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir dos mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo.
- Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica).
- As origens das Funções Psicológicas Superiores devem ser buscadas, assim, nas relações sociais entre o indivíduo e os outros homens: para Vygotsky o fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é social e, portanto, histórico. Os elementos mediadores na relação entre o homem e o mundo – instrumentos, signos e todos os elementos do ambiente humano carregados de significado cultural – são fornecidos pelas relações entre os homens. Os sistemas simbólicos, e particularmente a linguagem, exercem m papel fundamental na comunicação entre os indivíduos e no estabelecimento de significados compartilhados que permitem interpretações de objetos, eventos e situações do mundo real.


PENSAMENTO E LINGUAGEM

- Como a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, a questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupam lugar central na obra de Vygotsky.
- Vygotsky trabalha com duas funções básicas da linguagem. A principal função é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. Essa função de comunicação com os outros é bem visível na criança que está começando a aprender a falar: ela não sabe ainda articular palavras, nem é capaz de compreender o significado preciso das palavras utilizadas pelos adultos, mas consegue comunicar seus desejos e seus estados emocionais aos outros através de sons, gestos e expressões. É a necessidade de comunicação que impulsiona, inicialmente, o desenvolvimento da linguagem.
- Para que a comunicação seja possível de forma sofisticada é necessário que sejam utilizados signos, compreensíveis por outras pessoas, que traduzam idéias, sentimentos, vontades, pensamentos, de forma bastante precisa.
- A segunda função da linguagem é a de pensamento generalizante. A linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sobre uma mesma categoria conceitual. É essa função de pensamento generalizante que torna a linguagem um instrumento de pensamento: a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A compreensão das relações entre pensamento e linguagem é, pois, essencial para a compreensão do funcionamento psicológico do ser humano.

O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM

- O pensamento e a linguagem têm origens diferentes e desenvolvem-se segundo trajetórias diferentes e independentes, antes que ocorra a estreita ligação entre esses dois fenômenos. Vygotsky trabalha com desenvolvimento da espécie humana e com o desenvolvimento do indivíduo, buscando compreender a origem e trajetória desses dois fenômenos.
- O trabalho é uma atividade que exige, por um lado, a utilização de instrumentos para a transformação da natureza e, por outro lado, o planejamento, a ação coletiva e, portanto, a comunicação social.

DESENVOLVIMENTO E APRENDIZADO

- Vygotsky não chegou a formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, a partir da qual pudéssemos interpretar o processo de construção psicológica do nascimento até a fase adulta. Este autor também não nos oferece uma interpretação completa do percurso psicológico do ser humano; oferece-nos, isto sim, reflexões e dados de pesquisa sobre os vários aspectos de desenvolvimento.
- Vygotsky também enfatiza a importância dos processos de aprendizado. Para ele, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é “um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”. Há um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam.
- A concepção de que é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos dos indivíduos liga o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o meio ambiente sócio-cultural em que vive e sua situação de organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos da sua espécie. E essa importância que Vygotsky dá ao papel do outro social no desenvolvimento dos indivíduos cristaliza-se na: formulação de um conceito específico dentro de sua teoria, essencial para a compreensão de suas idéias sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizado: o conceito de zona de desenvolvimento proximal.

O CONCEITO DE ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL


- Nível de Desenvolvimento Real - Capacidade de realizar tarefas de forma independente.
- Nível de Desenvolvimento Potencial - Capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou companheiros mais capazes.
- A possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky:
1º) Porque representa, de fato, um momento de desenvolvimento: não é qualquer indivíduo que pode, a partir da ajuda de outro, realizar qualquer tarefa. A capacidade de se beneficiar com uma colaboração de outra pessoa vai ocorrer num certo nível de desenvolvimento, mas não antes.
A idéia de nível de desenvolvimento potencial capta um momento do desenvolvimento que caracteriza não as etapas já alcançadas, já consolidadas, mas etapas posteriores, nas quais a interferência de outras pessoas afeta significativamente o resultado da ação individual.
2º) Porque atribui extrema importância a interação social no processo de construção das funções psicológica humanas. O desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e a relação com o outro, nas esferas e níveis da atividade humana, é essencial para o processo de construção de ser psicológico individual.
- É a partir da postulação da existência desses dois níveis de desenvolvimento (real e potencial) que Vygotsky define a Zona de Desenvolvimento Proximal como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sobre a orientação de um outro mais capaz.
- Zona de Desenvolvimento Proximal - caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas, estabelecidas no seu nível de desenvolvimento real. A Zona de Desenvolvimento Proximal é, pois, um domínio psicológico em constante transformação. Interferindo constantemente na Zona de Desenvolvimento Proximal das crianças, adultos e crianças mais experientes contribuem para movimentar os processos de desenvolvimento dos membros imaturos da cultura.

O PAPEL DA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

- Nas sociedades letradas a escola tem um papel central no desenvolvimento das pessoas.
- A implicação da concepção de Vygotsky para o ensino escolar é imediata. Se o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Mas o desempenho desse papel só se dará adequadamente quando, conhecendo o nível de desenvolvimento dos alunos, a escola dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando realmente como um motor de novas conquistas psicológicas.
- O processo de ensino e aprendizado na escola deve ser construído tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança (num dado momento e com relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido) e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, adequados à faixa etária e ao nível de conhecimento e habilidades de cada grupo de crianças. O percurso a ser seguido nesse processo estará balizado também pelas possibilidades das crianças, Isto é, pelo nível de desenvolvimento potencial.
- O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal de seus alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. “O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento”.
***Alunos são heterogêneos.
***Professor é um mediador.
***Nas situações informais de aprendizado os sujeitos utilizam as interações sociais como forma privilegiadas de acesso à informação.
*** Qualquer modalidade de intervenção social, quando integrada num contexto realmente voltado para a promoção do aprendizado e do desenvolvimento, pode ser utilizada, de forma produtiva, na situação escolar.
- Ao enfatizar o papel da intervenção no desenvolvimento, Vygotsky aponta que o objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento da pessoa, e não propor uma pedagogia diretiva, autoritária. Este autor trabalha com a idéia de reconstrução, de reelaboração, por parte do indivíduo, dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural. A constante recriação da cultura por parte de cada um dos seus membros é a base do processo histórico, sempre em transformação, das sociedades humanas.
- Ligado, mas não restrito aos procedimentos escolares, o mecanismo da imitação não é uma mera cópia de um modelo. É a reconstrução individual daquilo que é observado nos outros. Essa reconstrução é balizada pelas possibilidades psicológicas da criança que realiza a imitação e constitui, para ela, criação de algo novo a partir do que observou do outro. A atividade imitativa não é mecânica, mas sim uma oportunidade de a criança realizar ações que estão além de suas próprias capacidades, o que contribuiria para o se desenvolvimento. Só é possível a imitação de ações que estão dentro da zona de desenvolvimento proximal do sujeito. A imitação pode ser utilizada em situações de ensino e aprendizagem como forma de permitir a elaboração de uma função psicológica no nível interpsíquico (coletivo, social) para que mais tarde essa função possa ser internalizada como atividade intrapsicológica ( interna ao próprio indivíduo).


BRINQUEDO E DESENVOLVIMENTO

- Considerado como domínio da atividade infantil o brinquedo tem claras relações com o desenvolvimento.
- O brinquedo é também uma atividade regida por regras.
- Em uma situação imaginária (“faz-de-conta”) a criança é levada a agir num mundo imaginário, onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes.
- O brinquedo provê uma situação de transição entre a ação da criança com objetos concretos e suas ações com significado.
- São exatamente as regras da brincadeira que fazem com que a criança se comporte de forma mais avançada do que aquela habitual para a sua idade.
- O que na vida real é natural e passa desapercebido, na brincadeira torna-se regra e contribui para que a criança entenda o universo particular dos diversos papéis que desempenha.
- Tanto pela criação da situação imaginária, como pela definição de regras específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Na brincadeira a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades de vida real e também aprende a separar objeto e significado.
- A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola, e principalmente a educação infantil, pode se utilizar desse tipo de situação para atuar no desenvolvimento dos alunos.

Para saber +


Download Vigotsky


Bibliografia
OLIVEIRA, Marta Kohl de. VYGOTSKY – Aprendizado e Desenvolvimento Sócio-histórico. São Paulo: Scipione Ltda.: Vozes, 1993.

Documentário encontrado em Café Filosófico

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Jean Piaget

Teorias sobre a Origem e a Evolução do Conhecimento Humano

INATISMO - Conhecimento é pré - formado, Inato. Nasce com o sujeito.
Representantes: Konrad Lorenz e Noam Chomsky.
EMPIRISMO/BEHAVIORISMO - Conhecimento tem origem e evolui a partir das experiências que o sujeito vai acumulando.
- Levado ao extremo, o Empirismo se expressa no determinismo ambiental : o homem é produto do ambiente.
Representantes: Jonh Broadus Watson e Burrhus Frederic Skinner (comportamentalistas= Behaviorismo).
CONSTRUTIVISMO - Conhecimento resulta da interação, do sujeito com o ambiente.
Representantes: Jean Piaget, Henri Wallon, L.S. Vygotsky, A. N. Leontiev e A.R. Luria.


BIOGRAFIA

Nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 09 de agosto de 1886.
Formação científica em biologia.
Especialista em psicologia evolutiva e epistemologia genética, filósofo e educador, com enorme produção na área de Educação.
Conhecido principalmente por organizar o desenvolvimento cognitivo em uma série de estágios.
Desde criança interessou-se por mecânica, fósseis e zoologia.
Enquanto terminava seus estudos secundários trabalhou como assistente voluntário no Laboratório do Museu de História Natural, de Neuchâtel, sob a direção de Paul Godet, especialista em malacologia.
Com a morte de Godet, em 1911, continuou trabalhando no laboratório e escreveu e publicou vários trabalhos.
Doutor em Ciências (1918) pela Universidade de Neuchâtel (Suíça). Estudou em laboratórios de psicologia e estagiou em uma clínica psiquiátrica (período que tomou contato com as obras de Freud e Jung).
Em 1919 ingressou na Sorbonne, onde estudou psicopatologia. Estagiou em um hospital psiquiátrico e estudou lógica. Trabalhou em laboratório de psicologia experimental, fez pesquisas com crianças deficientes mentais sobre a formação do número na criança.
Em 1923, assumiu a direção do Instituto Jean Jacques Rousseau, de Genebra, passando a estudar, sistematicamente, a inteligência.
Desde 1921, lecionou em várias universidades da Europa, além de proferir conferências nos USA, recebendo ali o título de doutor honoris causa. Também recebeu esse título da Universidade de Paris, onde lecionou.
Rio de Janeiro (1949): professor-conferencista, recebendo da Universidade do Brasil (hoje UFRJ) o título de doutor honoris causa.
Escreveu mais de 100 livros e artigos:
1.Seis Estudos de Psicologia;
2. A construção do Real na Criança;
3. A Epistemologia Genética;
4. O Desenvolvimento da Noção de Tempo na Criança;
5. Da Lógica da Criança à Lógica do Adolescente;
6. A Equilibração das Estruturas Cognitivas.
Morreu em Genebra em 16 de setembro de 1980, com 83 anos de idade.
Jean Piaget analisou por mais de 50 anos o psiquismo infantil e concluiu que cada criança constrói, ao longo do processo de desenvolvimento, o seu próprio modelo de mundo.

Principais Chaves do Desenvolvimento

- Própria ação do sujeito.
- O modo pelo qual esta ação do sujeito se converte em um processo de construção interna, isto é, de formação dentro da mente de uma estrutura em contínua expansão, que corresponde ao mundo exterior.
- Desde o princípio a criança exerce controle sobre a obtenção e organização de sua experiência do mundo exterior. As ações, inicialmente puras formas de exploração do mundo, aos poucos se integram em esquemas psíquicos ou modelos elaborados pela criança.
Esquema - padrão de comportamento ou ação que se desenvolve com uma certa organização e que consiste em um modo de abordar a realidade e conhecê-la.
Esquemas Simples (ex: reflexo de sucção).
Esquemas Complexos (ex: operações lógicas).
Os esquemas simples vão se organizando, integrando-se a outros e formando os esquemas complexos. As estruturas psicológicas desenvolvem-se gradualmente neste processo de integração com o ambiente e são compostas por uma série de esquemas integrados.
No Construtivismo os processos de desenvolvimento e aprendizagem são resultados da atividade do homem na interação com o meio ambiente. Piaget explica essa interação com o meio ambiente valendo-se de 3 conceitos (tomados da Biologia): Assimilação, Acomodação e Adaptação
Assimilação: incorporação de um NOVO (objeto ou idéia) ao que já é conhecido, ou seja, ao esquema que o sujeito já possui.
Acomodação: transformação que o organismo sofre para poder lidar com o ambiente. Diante do NOVO o sujeito modifica seus esquemas adquiridos anteriormente, tentando adaptar-se à nova situação.
EX:) Alimentação Assimilação - quando ingerimos o alimento e o modificamos conforme nossa experiência em lidar com os alimentos.
Acomodação - o organismo também é modificado para/ quando recebe o alimento (aumento da salivação, contrações musculares, etc.)
A criança é o próprio agente do seu desenvolvimento; os processos assimilativos gradualmente estendem seu domínio e a acomodação leva a modificações da atividade. Do equilíbrio dos processos de Assimilação e Acomodação advém uma Adaptação ao mundo cada vez mais adequada e uma consequente organização mental.
O desenvolvimento cognitivo, controlado por esses fatores, processa-se através de todas as atividades infantis:
- 0 a 2 anos : atividades físicas dirigidas a objetos e situações externas. À medida que aumentam as possibilidades da criança e ela domina a locomoção, depois a linguagem, as atividades externas desenvolvem uma dimensão interna importante. O que a criança vai explorando enquanto anda vai sendo representado mentalmente.
- 2 aos 6 anos: o processo continua através de todas as atividades infantis.
- Por volta dos 7 anos: surge o pensamento operatório. Inicialmente, as ações interiorizadas ainda se fundamentam na manipulação mental dos objetos e constituem as operações concretas.
- A partir dos 11/12 anos: com maior avanço surgem as operações abstratas (baseadas em raciocínio abstrato) e substituem as manipulações de objetos por uma lida com proposições verbais.
- Desde o começo, pois, construímos em nossa mente uma espécie de modelo interior do mundo que nos rodeia; como o modelo básico está em nossa mente, resta construí-lo, completá-lo e organizá-lo, à medida que se tem contato com os estímulos do meio.
- Piaget nos ajuda a compreender a sequência de desenvolvimento do modelo de mundo que uma criança vai construindo ao longo de cada período de sua vida; nos ajuda a compreender os “erros” cometidos pelas crianças, percebendo-os como resultados de uma maneira particular de interpretar a realidade, a partir de um modelo particular de mundo que se tem. É esse modelo particular de mundo da criança e não do professor que se tem de levar em conta quando se realiza o ensino. Além disso, a construção de novos modelos, mais evoluídos, só é possível graças à atividade do próprio aluno, que é agente de seu desenvolvimento.

Uma Proposta de Ensino Baseada no Construtivismo Piagetiano

- Piaget não pretendeu construir uma teoria pedagógica, embora seu método clínico pode sugerir uma atitude extensiva à prática pedagógica: OBSERVAÇÃO.
- Os professores têm preocupação e ansiedade em ensinar e não têm paciência suficiente para esperar que as crianças aprendam. Dificilmente aguardam as respostas das crianças, e com isso, perdem a oportunidade de acompanhar, através de respostas espontâneas, a estrutura de raciocínio de seus alunos (ansiosos para ensinar os professores não observam/avaliam as condições dos alunos para aprenderem).
- Modo clássico de intervenção dos professores: atividades dirigidas e controladas; explicar “como” fazer, resolver e “dizer” que está certo ou errado. Este tipo de intervenção contraria a tese da Psicogenética que consiste em atribuir um papel primordial à atividade do sujeito no processo de construção de seu próprio conhecimento (sujeito como agente ativo do seu desenvolvimento e aprendizagem).
- Educação fundamentada na teoria piagetiana: escolas com estratégias de ensinos que se baseiam na atividade do aprendiz. As crianças organizam suas atividades a partir de um objetivo mais ou menos preciso.
- Ao aprenderem verdades já estruturadas e apresentadas de maneira organizada os alunos perdem a oportunidade de realizarem suas próprias tentativas e estruturarem/construírem seu próprio conhecimento. O ideal seria o professor adaptar o material escolar em função do caminho intelectual do aluno.
- Outra tese piagetiana apresenta o desenvolvimento cognitivo como um processo sequencial marcado por etapas caracterizadas por estruturas mentais diferenciadas.
- A variabilidade na sequência do desenvolvimento pode ser observada em qualquer faixa etária e a observação atenta do professor consiste no recurso para oferecer à criança o tipo de ensino/atividades do qual ela realmente necessita.
- A falta de conhecimentos por parte dos professores em relação ao desenvolvimento os leva a cometer “erros/falhas” e propor situações-problemas em momentos inoportunos ou de forma inadequada. Outro fator que interfere é a necessidade do cumprimento dos programas de ensino.
- Proposta de uma Nova Forma de olhar o ensino:
- como está o aprendiz;
- o que fazer para que ele progrida, a partir do ponto em que ele está.
Aprender implica em COMPREENDER. O professor deve conhecer o processo de pensamento do aprendiz, ou seja, deve sondar o nível de desenvolvimento da criança antes de planejar o ensino (Avaliação Diagnóstica).
- O desenvolvimento cognitivo é um processo social. A interação tem papel importante no desenvolvimento das operações lógicas, pois influencia significativamente a visão do mundo do sujeito e lhe permite evoluir de uma perspectiva subjetiva para uma objetiva. Costuma-se, por este motivo, falar em co-operação para se fazer referência a este processo de desenvolvimento das operações no convívio social.
- Linguagem - é o recurso por meio do qual a criança representa o mundo que vai percebendo. Sua maneira de falar é condizente com sua estrutura mental, o que nos permite uma análise do desenvolvimento cognitivo através da fala.
- Solicitar à criança que apresente verbalmente seu raciocínio durante o trabalho e aceitar explicações adequadas ao seu nível de desenvolvimento.
- Linguagem e Raciocínio são complementares e se interinfluenciam.

O Desenvolvimento Psíquico na Perspectiva de Piaget

Déficits segundo Piaget:
a) Real
b) Circunstancial
c) Estrutural
d) Funcional
Cada estrutura cognitiva tem o seu próprio momento de aparecer. A interação adequada como o meio facilitará com que ela emerja e possa ser utilizada em sua plenitude. A perda desse momento pode ser “desastrosa”, pois uma estrutura mental, se não for exercitada no momento próprio, irá requerer, em etapa superior, maior esforço tanto do sujeito em desenvolvimento quanto de quem pretende facilitar/mediar este processo.


1. Aspectos e Estágios do Desenvolvimento Psíquico

Funções de Conhecimento: responsáveis pelo conhecimento que se tem do mundo e incluem:
- Pensamento lógico - desde os reflexos até o pensamento operatório.
- Organização da realidade - desde o estado de indiferenciação entre o EU e o MUNDO e a construção de conceitos.
Funções de Representação: incluem funções graças às quais representamos um significado qualquer (objeto, acontecimento, pessoa) usando um determinado significante (palavra, gesto, desenho).
+ imitação diferida, jogo, desenho, a linguagem e a imagem mental.
Funções Afetivas: o motor do desenvolvimento cognitivo.
Na relação com o Outro as funções passam por etapas desde a anomia (ausência de regras morais para limitar o que é permitido fazer) para a heteronomia (regras impostas pelo outro) até a autonomia moral.
O desenvolvimento dessas funções é marcado por períodos dotados de características bem definidas, as quais expõem uma estrutura qualitativamente diferente da qual a precede e das que a sucederão ao mesmo tempo em que preparam o indivíduo para o estágio seguinte.

2. O Desenvolvimento Cognitivo na Perspectiva de Piaget

A) Estágio Sensório-Motor
B) Estágio Objetivo-Simbólico (também denominado Pré-Operatório)
C) Estágio Operatório (também denominado Operacional Concreto)
D) Estágio das Operações Formais ( também denominado Operacional Abstrato)

A) Estágio Sensório-Motor

- Do nascimento até aproximadamente 2 anos (aparecimento da linguagem).
- O desenvolvimento se dá por meio de percepções, sentidos e movimentos, pelos quais o sujeito percebe o mundo.
- 1º momento do desenvolvimento lógico.
- Coordenação sensório-motora de ação baseada na evolução da percepção e da motricidade.
- Domínio dos reflexos à Aprendizagem.
- Nele se origina o comportamento inteligente (inteligência essencialmente prática).
Do Ponto de Vista do Desenvolvimento do Pensamento o Período Sensório-Motor é dividido em 6 subestágios:
1. Exercício Reflexo: atividade puramente reflexa (ex: sugar). Estende-se pelo 1o mês de vida.
2. Reações Circulares Primárias: formação dos primeiros hábitos (repetir o comportamento relativo ao próprio: movimento com as mãos, que foi casualmente emitido).
3. Coordenação de visão e preensão e Começo das reações circulares secundárias: a criança repete os comportamentos (reação circular) que produziram certo efeito e os faz intencionalmente. Há uma antecipação, embora limitada, do efeito de uma ação. Delineia-se, então, a diferença entre fins e meios, mas sem preliminares quando da aquisição de uma conduta nova.
Vai até aproximadamente os 8 meses.
4. Coordenação dos esquemas secundários: com utilização, em certos casos, de meios conhecidos para obtenção de um objetivo novo. Vai até aproximadamente os 18 meses.
5. Diferenciação dos esquemas de ação por reação circular terciária: variação das condições de exploração e tateamento dirigido e descoberta de meios novos (tenta outros meios para atingir seus objetivos; percebe que os esquemas do seu repertório são adequados para tingir todos os fins).
Com aproximadamente 18 meses a criança começa a pensar, a procurar o que quer e pegar sem auxílio. A criança já possui memória.
6. Início da interiorização dos esquemas e Solução de alguns problemas após a interrupção da ação e ocorrência de compreensão súbita: situação-problema - comportamento representativo àobservação à resposta. Vai até aproximadamente 2 anos.
Do Ponto de Vista da Organização da Realidade o Período Sensório-Motor apresenta as seguintes características:
- Coordenação dos movimentos e deslocamentos: inicialmente são centrados no próprio corpo. Descentralizam-se gradualmente e atingem um estágio em que a criança se percebe como um elemento entre outros e descobre o objeto permanente.
Ao esconder um brinquedo com o qual a criança está brincando:
1º) A criança procura, evidencia a compreensão da existência do brinquedo, mesmo fora do seu campo visual. A criança não é capaz de acompanhar os deslocamentos se o brinquedo for escondido em diferentes lugares. 4º subestágio / Aproximadamente dos 8 – 11 meses.
2º) A criança acompanha os deslocamentos sucessivos, desde que sejam perceptíveis = Grupo prático dos deslocamentos (capacidade de coordenar desvios, retornos de ações e outros movimentos). 5º subestágio / Aproximadamente 18 meses.
3º) A criança é capaz de encontrar o objeto escondido, mesmo quando há complexas combinações de esconderijo, incluindo até deslocamentos não perceptíveis = Generalização do grupo prático dos deslocamentos. A criança já domina o objeto permanente. 6º subestágio / Aproximadamente 2 anos.


B) Estágio Objetivo-Simbólico (também denominado Pré-Operatório)

- 2 anos até 6/7 anos.
- Desenvolvimento do Pensamento, Desenvolvimento da Linguagem e Desenvolvimento da Moral.
- Preparação e organização das operações concretas, tendo uma estrutura pré-operatória.
- A criança volta-se para realidade exterior; expande do subjetivo para o objetivo.
- Após os 18 meses, a criança começa a falar, usar jogos de faz-de-conta, imitar. Desta forma, instala-se o simbólico.
- 2 – 4 anos à instala-se a função simbólica e tem início a interiorização dos esquemas de ação em representações.
predomina a transdução (modelo de raciocínio primitivo, que se orienta do particular para o particular. À transdução relacionam-se os pré-conceitos ( são concretos e compostos de imagens) e as pré-relações.
O raciocínio transdutivo tende a justapor os elementos sem vinculá-los, mediante apelo à necessidade lógica ou causalidade física.
- fala egocêntrica.
- com aproximadamente 3 anos: SOLILÓQUIO. A criança fala em voz alta, mesmo sozinha. Assume vários personagens e brinca com amigos imaginários.
É uma aprendizagem e, portanto, necessita de treino. Localiza-se no Córtex Cerebral. Os estímulos estão presentes em nossas vidas e devem respeitar a maturação da criança (esse tempo é universal).

Aprendizagem:
- Estimulação
- Maturação
- Tempo

Fala (motora) - Lobo Frontal (Área de Broca).
Linguagem - Lobo Temporal Esquerdo (Área de Wernicke).
- Aprendizagem.
- Interpretação.

18 meses - 2 anos: Frases telegráficas com frases curtas, sem preposições e/ou conjunções. Início do uso do EU.
3 anos: Frases mais completas, com associação do EU/MEU.
Revolução Copérnica - a criança começa a criar independência, amplia seu campo de visão e ação è fatos responsáveis pela formação da personalidade da criança. Na descoberta dessa independência a criança torna-se EGOGÊNTRICA (Pensamento Egocêntrico).
Nesta fase é muito importante o adulto apresentar para a criança uma rotina, coerência nas atitudes dos pais e educadores e também permitir a criança que faça escolhas.
- Egocentrismo: 2 – 4 anos. É uma disposição afetivo-intelectual que se apresenta sempre que uma alteração da realidade social do sujeito não é acompanhada da capacidade de representar tal realidade. Não é egoísmo. A criança pensa que todos vêem o mundo como ela o vê. A criança se vê como o centro e a única estrutura de referência. Aparece também na adolescência e na velhice. Traz algumas manifestações características:
a) Animismo - é a tendência a atribuir vida (anima) a todos os seres, mesmo os inanimados.
b) Artificialismo - é a tendência a atribuir uma origem artesanal humana a todas as coisas (ex: a montanha foi feita por um homem grande que juntou muita terra).
c) Finalismo - é a tendência da criança a considerar que todos os seres e objetos têm uma finalidade, que é servi-la ( a cama é para ela dormir).
Egoísmo (desenvolvimento moral / social) é diferente do
Egocentrismo (desenvolvimento do EU / Individualidade)
- 4 – 5 1/2 anos - Aparecem as organizações representativas, fundadas seja sobre configurações estáticas, seja sobre assimilação à própria ação.
- Fase dos “porquês”.
- As primeiras estruturas representativas têm um caráter de dualidade dos estados e das transformações. Enquanto os estados são pensados como configurações estáticas (é o caso do papel da coleção de figurinha quando a criança forma classes), as transformações são assimiladas às ações, e a criança tende a não percebê-las.
- Aos 4 anos a criança começa a contar história, embora ainda não tenha seqüência lógico-temporal. Começa também a conjugar os verbos (Pensamento Verbal).
- A partir do 4 anos domina o raciocínio intuitivo: bastante rápido e ainda pré-lógico; fundamenta-se exclusivamente na percepção. A criança acredita numa constância perceptual (acredita no que ela vê).
A criança adquire um modo de lidar com muitos problemas de integração, de diferentes pontos de vista, e com informações de diferentes fontes.
A criança desconhece a reversibilidade e a conservação. Por isto, não é ainda uma lógica, mas uma semilógica, e, a falta de operações inversas, não tem uma estrutura operativa. A criança realiza operações em suas imagens mentais – considera a imagem mental em toda sua concretividade e depois organiza mentalmente, a fim de conseguir informações novas. Tudo se passa como se a imagem mental seguisse as leis que governam o objeto real, mas não pudesse formular conceitualmente tais leis e, assim, ver o problema através de uma forma inteiramente lógica, a fim de chegar a uma resposta.
- 5 – 7 anos: a criança descobre um série de “regras e estratégias” gerais abstratas, imensamente poderosas, para examinar e interagir com o mundo (operações concretas).
- 5 1/2 – 7 anos - Aparecem as regulações representativas articuladas.
- Fase intermediária entre a não-conservação e a conservação (quando adiciono algum elemento em algo, modifico-o).
- Marca o início das ligações entre estados e transformações, tornando possível pensá-las sob forma semi-reversível (a criança é capaz de acompanhar o movimento de transformar a água em gelo e admitir que seja possível voltá-la à forma anterior).
- O pensamento representacional, graças a sua capacidade simbólica, apreende, simultaneamente, numa síntese interna, única, uma série de fatos. Este pensamento pode refletir sobre a organização de seus próprios atos. É intrínseca a ela a faculdade de ser contemplativo da ação em lugar de ser meramente ativo.
- Outra característica do período pré-operacional é sua capacidade para superar o presente imediato, que lhe possibilita, com o tempo, estender seu alcance muito além dos atos presentes, concretos do sujeito e dos objetos presentes, concretos do ambiente.
- Operações: referem-se especialmente a esquemas internos como reversibilidade, adição, subtração, divisão, ordenação serial.
- Incapacidade de Descontração: O pensamento pré-operatório tende a centrar a atenção num só traço mais saliente do objeto de seu raciocínio, em detrimento dos demais aspectos importantes. A criança é incapaz de descentrar, isto é, de tomar em consideração aspectos que poderiam equilibrar e compensar os efeitos distorcedores do raciocínio, que se fixa apenas num aspecto particular da realidade.
- Estados X Transformações: A criança tende a concentrar sua atenção nos aspectos ou configurações sucessivos de uma coisa, mais do que nas transformações através das quais um estado se transforma em outro. É por este fato que dizemos que o pensamento pré-operacional é estático, imóvel, pode concentrar-se, de maneira esporádica e impressionista, nesta ou naquela condição momentânea, estática, mas não liga de modo adequado uma sucessão de condições numa totalidade integrada, levando em consideração as transformações que as unificam e as fazem logicamente coerentes.
- Ação: O pensamento pré-operacional desenvolve-se a partir de imagens concretas e estáticas da realidade, e não com sinais abstratos. Por isso, as representações da criança, tanto em sua forma quanto em sua operação, são muito mais próximas das ações manifestas que as representações de crianças maiores. A criança, em lugar de reorganizar, esquematizar, dar nova forma aos fatos, tende a imprimir em sua mente as sucessões de fatos da realidade tal como faria na conduta manifesta. Uma das formas assumidas por esse pensamento concreto é o realismo.
- Irreversibilidade: O pensamento pré-operacional, lento e muito concreto, não é reversível, pois não faz mais do que repetir aspectos irreversíveis da realidade.
- Brinca em grupo.
- Linguagem = Diálogo ( uso do Nós).
- Começa a escrever.
- A criança percebe / compreende que os elementos podem pertencer a mais de uma categoria ao mesmo tempo.
- Desenvolvimento Moral: há uma ambiguidade entre VIOLÊNCIA (é negativa e aprendida socialmente) e AGRESSIVIDADE (é “positiva”. A pessoa não se acomoda. É importante para o desenvolvimento moral).

C) Estágio Operatório (também denominado Operacional Concreto)

- 7 aos 11/12 anos.
- Muda a forma pela qual a criança aborda o mundo.
- As ações, que implicam em manipulação e contato direto com o real, são interiorizadas e passam a constituir as operações. Estas operações são ações interiorizadas (conhecer o real implica em pensar sobre ele) agrupadas em sistemas coerentes e reversíveis (pode-se anular uma ação e voltar ao ponto de partida).
- Reconstrução: requer a passagem de um estado inicial em que tudo está centrado no CORPO e na ação do sujeito a um estado de descentração que implica em relação objetiva com acontecimentos, objetos e pessoa. Para se chegar às operações o sujeito se baseia num universo físico e também em um universo interindividual e social. A criança elabora seu conhecimento do mundo levando em conta os sujeitos com os quais convive e que são ao mesmo tempo exteriores análogos ao EU.
- Cooperação: que emerge das relações entre iguais é indispensável à objetividade, coerência interna e universalidade das estruturas operatórias.
- De acordo com Piaget, as operações lógicas têm como modelo as Operações Lógico-Matemáticas e se organizam como estruturas mentais. Por se assemelharem à estrutura matemática do grupo, ele as denomina agrupamentos.
- 1º Subestágio de Operações Concretas - Classificação
(+- 7 aos +-9 anos) -  Seriação
- 2º Subestágio de Operações Concretas - Compensação Simples
( +- 9 aos +- 11/12 anos)
- Há uma hierarquia, com uma complexidade crescente. A ocorrência de uma depende sempre da que a antecede.


- Operações:

- constituem em transformações reversíveis e tal reversibilidade pode constituir em inversões ou em reciprocidade.
- a criança compreende estas reversibilidades sem, contudo, coordená-las.
- baseiam-se diretamente nos objetos e não ainda em hipóteses enunciadas verbalmente.
- são de duas ordens ( há uma estreita relação entre as duas):
a) Operações Lógico-Matemática - versam sobre semelhanças (classes e relações simétricas), diferenças (relações assimétricas) ou ambas ao mesmo tempo (números). Reúnem os objetos em classes, ordená-los, multiplicá-los, mas não se ocupam do objeto em sua composição inteira.
b) Operações Infralógicas - são formadoras da noção do objeto como tal, por oposição ao conjunto de objetos. Dizem respeito às conservações físicas (conservação da quantidade de matéria, de peso e de volume) e à constituição do espaço (conservação de comprimento, superfície, perímetro, horizontais, verticais, etc.). Resultam na construção de variantes físicas e espaciais.

O Desenvolvimento das Operações Infralógicas

- Transformação Operatória: não modifica tudo ao mesmo tempo. Há sempre um invariante (Segundo Piaget: noção ou esquema de conservação).
*** Noção de Conservação se constituem paralelamente à elaboração das estruturas Lógico-Matemáticas de classes, relações e números. Etapas de Não-Conservação, Semi-Conservação e Conservação.
Conservações Físicas:
1) Conservação de Quantidade: 7 aos 9 anos (identidade simples ou aditiva; reversibilidade por inversão; compensação ou reversibilidade por reciprocidade de relações).
2) Conservação de Peso: 9/10 anos.
3) Conservação de Volume: é a última a se instalar por volta dos 11 anos.
Conservações Espaciais:
1) Conservação de Comprimento: supõe a noção de distância e constituição do espaço que contém os objetos.
2) Conservação da Superfície.
3) Conservação do Volume Espacial. Etapas: capacidade de dissocia altura e volume; de 7 aos 9 anos a criança vai gradualmente colocando em relação as três dimensões (forma, altura e volume).

O Desenvolvimento das Operações Lógicas

As Operações Lógicas de Classificação, Seriação e Compensação emergem no Período Operatório (ou Operacional Concreto).
a) Classificação – consiste na capacidade de separar objetos, pessoas, fatos ou idéias em classes ou grupos, tendo por critério uma ou várias características comuns. É um agrupamento básico, cujas origens podem ser encontradas nas assimilações próprias dos esquemas sensório-motor. Etapas:
1. Coleção de Figuras: são reunidos os objetos semelhantes, mas justapondo-os espacialmente em fileiras, círculos, quadrados, de tal modo que a coleção forma uma figura no espaço que sirva de expressão perceptiva ou acompanhada da imagem de “extensão” da classe.
2. Coleções Não-Figurais: os objetos são reunidos em pequenos conjuntos, sem forma espacial, e podem diferenciar-se em subconjuntos.
3. Classificação Operatória: conseguida +- aos 8 anos. Caracteriza-se pelo encaixe de classes de extensão, o que não ocorria às coleções não-figurais ou inclusão de classes.
b) Seriação – ordenar os elementos segundo as grandezas crescentes ou decrescentes. É alcançada +- aos 7 anos e dela derivam progressos ulteriores:
1. Correspondências Seriais: fazer corresponder a um conjunto de objetos de tamanhos diferentes, seriando-os e fazendo corresponder termo a termo.
2. Seriação de duas dimensões.
c) Compensação: +- 9 aos 11/12 anos. Raciocínio que tenta restabelecer o equilíbrio de um sistema modificando uma variável do próprio sistema ou de um sistema diferente.


O Desenvolvimento de Conceitos Matemáticos

Os Conceitos Matemáticos de número, tempo e espaço e os conceitos combinados de espaço, tempo e velocidade desenvolvem-se em estreita relação com as operações lógicas e infralógicas, e se interinfluenciam.
Número - a formação do conceito de número efetua-se em estreita conexão com a conservação numérica e com as operações lógicas de classificação e seriação. Aprender a contar verbalmente não significa o domínio do conceito de número. Só se poderá falar em números operatórios quando estiver constituindo a conservação dos conjuntos numéricos independente dos arranjos espaciais. O conceito aritmético de número depende:
- da formação da noção de unidade.
- os elementos se tornam classificáveis segundo as inclusões de classes.
Espaço: a noção de espaço é fundamentada em estruturas em estruturas operatórias que se baseiam em objetos contínuos, nas suas vizinhanças e separações. São as estruturas infralógicas.
Medida Espacial é uma operação que se constitui em estreito isomorfismo com a noção de número, mas independe dela. A medida se inicia com a divisão do contínuo em classes; em seguida, para que se use a unidade, é preciso que uma das partes seja aplicada sucessivamente sobre o todo por deslocamento ordenado e isto corresponde a uma seriação. O desenvolvimento das operações espaciais na criança apresenta uma seqüência teórica: à Estruturas topológica de divisão de ordem (vizinhança, coordenação de vizinhança em ordem linear e depois bi e tridimensional) constituem um funcionamento geral que precede as estruturas projetivas (pontual, coordenação de ponto de vista) e as estruturas métricas (deslocamentos, medidas de duas/três dimensões em função de um sistema de referências ou coordenadas naturais).
Tempo: a noção de tempo repousa sobre três espécies d operações:
- Seriação de acontecimentos que constitui a ordem de sucessão temporal.
- Encaixe dos intervalos entre os acontecimentos pontuais, fonte da duração.
- Métrica temporal, isoforma à métrica espacial.
Velocidade: a noção de velocidade não principia em sua forma métrica (velocidade = espaço + tempo) antes dos 10/11 anos. Tem inicialmente um caráter ordinal. Apresenta a seguinte seqüência de desenvolvimento:
a) pré-operatório – a criança só considera os pontos de chegada.
b) a criança estrutura operacionalmente as ultrapassagens antecipadamente tanto quanto as contatadas.
c) a criança toma em consideração a grandeza crescente ou decrescente dos intervalos (nível hiperordinal).
d) a criança estabelece relações entre os espaços percorridos e o tempo gasto.

D) Estágio das Operações Formais ( também denominado Operacional Abstrato)

- 11/12 a 14/15 anos.
- O adolescente, ao tomar em consideração um problema, é capaz de prever todas as relações que poderiam ser válidas e logo procura determinar, por experimentação e análise, qual dessas relações possíveis tem validez real.
- O adolescente não se limita a organizar o que lhe chega através dos sentidos; tem a capacidade potencial de imaginar o que poderia estar ali.
- A descentração que se realiza na pré-adolescência, liberando o pensamento infantil do concreto, em proveito dos interesses orientados para o abstrato e o futuro, implica algumas outras características:
a) a estratégia que trata de determinar a realidade no contexto da possibilidade tem caráter fundamentalmente hipotético-dedutivo. Descobrir o real em meio ao possível supõe que se possa considerar o possível como um conjunto de hipóteses que devem ser confirmadas ou refutadas sucessivamente.
b) os dados são enunciados ou proposições que contêm esses dados. Pensamento formal é, sobretudo, pensamento proposicional. Tomam-se os resultados das operações concretas (ex: classificação e seriação).
As operações formais são, na realidade, operações realizadas sobre o resultado de operações concretas anteriores. Piaget denomina-as “Operações de 2º Grau” ou “Operações a 2ª Potência”.
c) o adolescente isola de modo sistemático todas as variáveis individuais, submetendo-as a uma análise combinatória, método que assegura a realização de um inventário completo do possível.
IMPORTANTE: Todos os traços do pensamento formal unem-se para transformá-lo em instrumento do raciocínio científico. O adolescente é capaz de achar a solução correta para um genuíno problema de descoberta científica. Os instrumentos adequados lhe são proporcionados pela atitude hipotético-dedutiva, pelo método combinatório e pelos demais atributos do pensamento formal, que lhe permitem isolar as variáveis que poderiam ser causais, mantendo um fator constante, a fim de determinar a ação causal do outro. Assim, o adolescente é capaz de imaginar as diversas transformações possíveis a que se podem submeter os dados para pô-los à prova empiricamente, e também é capaz de interpretar de maneira lógicamente correta os resultados de provas empíricas.

Combinatória

O adolescente é capaz de construir quaisquer classes e relações reunindo os elementos (1 a 1; 2 a 2; 3 a 3......).
O adolescente é capaz de combinar objetos entre si, fatos, idéias ou proposições, raciocinando, em cada caso, sobre a realidade dada, não mais reduzindo-a aos aspectos limitados e concretos, mas sim em função de todas as combinações possíveis (ou certos número delas). Isso realça os poderes dedutivos da inteligência e esclarece o conceito da combinatória.

Para saber +

Download Jean Piaget

Referências:
GOULART, Iris Barbosa. PIAGET – Experiências Básicas para Utilização pelo Professor. Petrópolis: Vozes, 1996.
Documentário encontrado em Café Filosófico