quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Lev Semenovich Vygotsky

BIOGRAFIA

1896: Nasce Lev Semenovich Vygotsky em 17/11, na Bielarus. Família judia.
1911: Ingressa pela primeira vez em uma instituição escolar, após anos de instrução com tutores particulares.
1913: Forma-se no Curso Secundário. Ingressa na Universidade de Moscou, no curso de Direito.
1914: Frequenta aulas de História e Filosofia.
1917: Forma-se em Direito.
Revolução Russa.
1917 – 1923: Leciona Literatura e Psicologia.
1920: Toma conhecimento que está Tuberculoso.
1924: Conferência no II Congresso de de Psiconeurologia de Leningrado, marco importante em sua carreira profissional. Inicia o trabalho no Instituto de Psicologia de Moscou.
1925: “Psicologia da Arte” – publicado em Moscou em 1965. Viaja para o exterior pela primeira e única vez em sua vida.
Organiza o Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes.
1929 - Instituto de Estudos das Deficiências.
Após 1934 - Instituto Científico de Pesquisa sobre deficiências da Academia de Ciências Pedagógicas.
1943: Morre de tuberculose, em 11/06, aos 37 anos de idade.
1962: Publicação do livro “Pensamento e Linguagem” nos Estados Unidos.
1982- 1984: Edição das obras completas de Vygotsky na URSS.
1984: Publicação da coletânea “A Formação Social da Mente” no Brasil.
1987: Publicação de “Pensamento e Linguagem” no Brasil.
1988: Publicação de “Aprendizagem e Desenvolvimento Intelectual na Idade Escolar” no Brasil.
- Trabalhou também na área chamada Pedologia (Ciência da criança que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos).
- Escreveu aproximadamente 200 trabalhos científicos, cujos temas vão desde a Neuropsicologia até a crítica literária, passando pela deficiência, linguagem, psicologia, educação e questões teóricas e metodológicas relativas às ciências humanas.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

- Vygotsky, Luria e Leontiev faziam parte de um grupo de intelectuais da Rússia pós-Revolução que tinha por objetivo a busca do “novo”, de uma ligação entre a produção científica e o regime social recém-implantado.
O grupo buscava a construção de uma “Nova Psicologia”, que consistisse em uma síntese entre as duas fortes tendências presentes na Psicologia do início do século:
- Psicologia como ciência natural.
- Psicologia como ciência mental.
Síntese : Não é a simples soma ou justaposição de dois elementos, mas a emergência e algo novo, anteriormente inexistente.Esse componente novo não estava presente nos elementos iniciais: Foi tornado possível pela interação entre esses elementos.
- Assim, a abordagem que busca uma síntese para a Psicologia integra, numa mesma perspectiva, o homem enquanto corpo e mente, ser biológico e ser social, membro da espécie humana e participante de um processo histórico.
- Essa nova abordagem para a Psicologia fica explícita em três idéias centrais que podemos considerar como os “Pilares” básicos do pensamentos de Vygotsky:
A) As funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos da atividade cerebral.
B) O funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre os indivíduos e o mundo exterior, as quais se desenvolvem num processo histórico.
C) A relação do homem com o mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos.
- A postulação de que o cérebro, como órgão material, é a base biológica do funcionamento psicológico toca um dos extremos da Psicologia: o homem, enquanto espécie biológica, possui uma existência material que define limites e possibilidades para o seu desenvolvimento.
- O cérebro, no entanto, não é um sistema de funções fixas e imutáveis, mas um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do desenvolvimento individual.
- Dadas as imensas possibilidades de realização humana, essa plasticidade é essencial: o cérebro pode servir a novas funções, criadas na história do homem, sem que sejam necessárias transformações no órgão físico.
- Essa idéia da grande flexibilidade não supõe um caos inicial, mas sim a presença de uma estrutura básica estabelecida ao longo da evolução da espécie, que cada um de seus membros traz consigo ao nascer.
- Outro pressuposto do trabalho de Vygotsky aponta que o homem transforma-se de biológico em sócio-histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da constituição da natureza humana.
- O funcionamento psicológico, particularmente no que se refere às Funções Psicológicas Superiores, tipicamente humanas, está baseado fortemente nos modos culturalmente construídos de ordenar o real.
Funções Psicológicas Superiores - mecanismos psicológicos mais sofisticados, mais complexos, que são típicos do ser humano e que envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presentes. Funções Psicológicas Superiores (ou processos mentais superiores): pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas.
Mecanismos mais Elementares - Ações Reflexas, Reações Automatizadas ou Processos de Associação Simples entre Eventos.

MEDIAÇÃO SIMBÓLICA

- Um conceito central para compreendermos o fundamento sócio-histórico do funcionamento psicológico é o conceito de MEDIAÇÃO: a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada, sendo os sistemas simbólicos os elementos intermediários entre o sujeito e o mundo.
- Esse modo de funcionamento psicológico (Funções Psicológicas Superiores), típico da espécie humana, não está presente no indivíduo desde o nascimento. As atividades psicológicas mais sofisticadas são frutos de um processo de desenvolvimento que envolve a interação do organismo individual com o meio físico e social em que vive. A aquisição da linguagem definirá um salto qualitativo no desenvolvimento do ser humano.
- MEDIAÇÃO: em termos genéricos, é o processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação. A relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. A presença de elementos mediadores introduz um elo a mais nas relações entre organismo e meio, tornando-as mais complexas. Ao longo do desenvolvimento do indivíduo as relações mediadas passam a predominar sobre as relações diretas.
- A relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, uma relação mediada. As Funções Psicológicas Superiores apresentam uma estrutura tal que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da atividade humana.
- Vygotsky distinguiu dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos. Embora exista uma analogia entre esses dois tipos de mediadores, eles têm características bastante diferentes e merecem ser tratados separadamente.

O USO DOS INSTRUMENTOS

- A importância dos instrumentos na atividade humana, para Vygotsky, tem ligação com sua filiação teórica aos postulados marxista. Vygotsky busca compreender as características do homem através do estudo da origem e desenvolvimento da espécie humana, tomando o surgimento do trabalho e a formação da sociedade humana, com base no trabalho, como sendo processo básico que vai marcar o homem como espécie diferenciada. É o trabalho que, pela ação transformadora do homem sobre a natureza, une o homem e natureza e cria a cultura e a história humana. No trabalho desenvolvem-se, por um lado, a atividade coletiva e, portanto, as relações sociais, e, por outro lado, a criação e utilização de instrumentos.
- O instrumento, externo ao sujeito, é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. O instrumento é feito ou buscado especialmente para um certo objetivo. Ele carrega consigo, portanto, a função para a qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. É, pois, um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.

O USO DOS SIGNOS

- A invenção e a utilização dos signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar ou comprar coisas) é análoga à invenção e uso dos instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel do instrumento no trabalho.
- Os instrumentos são elementos externos ao sujeito, voltados para fora dele, e sua função é provocar mudanças nos objetos, controlar processos da natureza. Os signos, por sua vez, também chamados por Vygotsky de “instrumentos psicológicos”, são orientados para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. São ferramentas auxiliares nos processos psicológicos e não nas ações concretas, como os instrumentos.
- A memória mediada por signos é mais poderosa que a memória não mediada.
- São inúmeras as formas de utilizar os signos como instrumentos que auxiliam no desempenho de atividades psicológicas e melhoram nossas possibilidades de armazenamento de informações (lista de compras por escrito, mapa para encontrar um local, dar um nó no dedo para não esquecer um compromisso).
- O uso de mediadores aumentou a capacidade de atenção e de memória e, sobretudo, permitiu maior controle voluntário do sujeito sobre sua ação.
- Os processos de mediação também sofrem transformações ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Justamente por constituírem funções psicológicas mais sofisticadas, os processos mediadores vão se construindo ao longo do desenvolvimento, não estando ainda presentes nas crianças.

OS SISTEMAS SIMBÓLICOS E O PROCESSO DE INTERNALIZAÇÃO

- Ao longo da evolução da espécie humana (desenvolvimento filogenético) e do desenvolvimento de cada indivíduo (desenvolvimento ontogenético), ocorrem duas mudanças qualitativas fundamentais no uso dos signos. Por um lado, a utilização de marcas externas vai se transformar em processos internos de mediação; esse mecanismo é chamado, por Vygotsky, de processo de internalização. Por outro lado, são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas.
- Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externa e passa a utilizar signos internos, isto é, representações mentais que substituem os objetos do mundo real. Os signos internalizados são, como as marcas exteriores, elementos que representam objetos, eventos situações.
- A própria idéia de que o homem é capaz de operar mentalmente sobre o mundo – isto é, fazer relações, planejar, comparar, lembrar – supõe um processo de representação mental. Temos conteúdos mentais que tomam o lugar dos objetos, as situações e dos eventos do mundo real.
- A capacidade de lidar com representações que substituem o próprio real é que possibilita ao homem liberta-se do espaço e do tempo presentes, fazer relações mentais na ausência das próprias coisas, imaginar, fazer planos e ter intenções. Essas possibilidades de operação mental não constituem uma relação direta com o mundo real fisicamente presente; a relação é mediada pelos signos internalizados que representam os elementos do mundo, libertando o homem da necessidade da interação concreta com os objetos do seu pensamento.
- Quando trabalhamos com os processos superiores que caracterizam o funcionamento psicológico tipicamente humano, as representações mentais da realidade exterior são, na verdade, os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo. É justamente a origem dessas representações que Vygotsky está buscando quando nos remete à criação e o uso dos instrumentos e dos signos externos como mediadores da atividade humana.
- Ao longo da história da espécie humana – onde o surgimento do trabalho propicia o desenvolvimento da atividade coletiva, das relações sociais e do uso de instrumentos – as representações da realidade têm se articulado em sistemas simbólicos. Isto é, os signos não se mantêm como marcas externas isoladas, referentes a objetos avulsos, nem como símbolos usados por indivíduos particulares. Passam a ser compartilhados pelo conjunto de membros do grupo social, permitindo a comunicação entre os indivíduos e o aprimoramento da interação social.
- Os sistemas de representação da realidade – e a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos – são, portanto, socialmente dados. É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo. Enquanto mediadores entre o individuo e o mundo real, esses sistemas de representação da realidade consistem numa espécie de “filtro” por meio do qual o homem será capaz de ver o mundo e operar sobre ele.
- É a partir de sua experiência com o mundo e com o contato com as formas culturalmente determinadas de organização do real (e com os signos fornecidos pela cultura) que os indivíduos vão construir seu sistema de signos, o qual consistirá numa espécie de “código” para a decifração do mundo.
- Os grupos culturais em que as crianças nascem e se desenvolvem funcionam no sentido de produzir adultos que operam psicologicamente de uma maneira particular, de acordo com os modos culturalmente construídos de ordenar o real. A dimensão sociocultural do desenvolvimento humano não se refere apenas a um amplo cenário, um pano de fundo onde se desenrola a vida individual. Isto é, quando Vygotsky fala em cultura não está se reportando apenas a fatores abrangentes como o país onde o indivíduo vive, seu nível sócio-econômico, a profissão de seus pais. Está falando sim do grupo cultural como fornecendo ao indivíduo um ambiente estruturado, onde todos os elementos são carregados de significação. Toda vida humana está impregnada de significações e a influência do mundo social se dá por meio de processos que ocorrem em diversos níveis.
- Há uma multiplicidade de fatores que define qual é o mundo em que o indivíduo vai se desenvolver.
- A interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel fundamental na construção do ser humano: é por meio da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo chegará a interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Portanto, a interação social, seja diretamente com outros membros da cultura, seja por meio dos diversos elementos do ambiente culturalmente estruturado, fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
- A cultura não é pensada como algo pronto, um sistema estático ao qual o indivíduo se submete, mas como uma espécie de “palco de negociações”, em que seus membros estão em um constante movimento de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados. A vida social é um processo dinâmico, onde cada indivíduo é ativo e onde acontece a interação entre mundo cultural e mundo subjetivo de cada sujeito. Neste sentido, Vygotsky postula a interação entre vários planos históricos: a história da espécie (filogênese), a história do grupo cultural, a história do organismo individual da espécie (ontogênese) e a sequência singular de processos e experiências vividas por cada indivíduo.
- O processo pelo qual o indivíduo internaliza a matéria-prima fornecida pela cultura não é, pois, um processo de absorção passiva, mas de transformação, de síntese. Esse processo é, para Vygotsky, um dos principais mecanismos a serem compreendidos no estudo do ser humano. É como se, ao longo de seu desenvolvimento, o indivíduo, “tomasse posse” das formas de comportamento fornecidas pela cultura, num processo em que as atividades externas e as funções interpessoais transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas.
- O processo de desenvolvimento do ser humano, marcado por sua inserção em determinado grupo cultural, se dá “de fora para dentro”. Primeiramente o indivíduo realiza ações externas, que são interpretadas pelas pessoas ao seu redor, de acordo com os significados culturalmente estabelecidos. A partir dessa interpretação é que será possível para o indivíduo atribuir significados a suas próprias ações e desenvolver processos psicológicos internos que podem ser interpretados por ele próprio a partir dos mecanismos estabelecidos pelo grupo cultural e compreendidos por meio dos códigos compartilhados pelos membros desse grupo.
- Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro entre pessoas (interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica).
- As origens das Funções Psicológicas Superiores devem ser buscadas, assim, nas relações sociais entre o indivíduo e os outros homens: para Vygotsky o fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é social e, portanto, histórico. Os elementos mediadores na relação entre o homem e o mundo – instrumentos, signos e todos os elementos do ambiente humano carregados de significado cultural – são fornecidos pelas relações entre os homens. Os sistemas simbólicos, e particularmente a linguagem, exercem m papel fundamental na comunicação entre os indivíduos e no estabelecimento de significados compartilhados que permitem interpretações de objetos, eventos e situações do mundo real.


PENSAMENTO E LINGUAGEM

- Como a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, a questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupam lugar central na obra de Vygotsky.
- Vygotsky trabalha com duas funções básicas da linguagem. A principal função é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. Essa função de comunicação com os outros é bem visível na criança que está começando a aprender a falar: ela não sabe ainda articular palavras, nem é capaz de compreender o significado preciso das palavras utilizadas pelos adultos, mas consegue comunicar seus desejos e seus estados emocionais aos outros através de sons, gestos e expressões. É a necessidade de comunicação que impulsiona, inicialmente, o desenvolvimento da linguagem.
- Para que a comunicação seja possível de forma sofisticada é necessário que sejam utilizados signos, compreensíveis por outras pessoas, que traduzam idéias, sentimentos, vontades, pensamentos, de forma bastante precisa.
- A segunda função da linguagem é a de pensamento generalizante. A linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sobre uma mesma categoria conceitual. É essa função de pensamento generalizante que torna a linguagem um instrumento de pensamento: a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A compreensão das relações entre pensamento e linguagem é, pois, essencial para a compreensão do funcionamento psicológico do ser humano.

O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO E DA LINGUAGEM

- O pensamento e a linguagem têm origens diferentes e desenvolvem-se segundo trajetórias diferentes e independentes, antes que ocorra a estreita ligação entre esses dois fenômenos. Vygotsky trabalha com desenvolvimento da espécie humana e com o desenvolvimento do indivíduo, buscando compreender a origem e trajetória desses dois fenômenos.
- O trabalho é uma atividade que exige, por um lado, a utilização de instrumentos para a transformação da natureza e, por outro lado, o planejamento, a ação coletiva e, portanto, a comunicação social.

DESENVOLVIMENTO E APRENDIZADO

- Vygotsky não chegou a formular uma concepção estruturada do desenvolvimento humano, a partir da qual pudéssemos interpretar o processo de construção psicológica do nascimento até a fase adulta. Este autor também não nos oferece uma interpretação completa do percurso psicológico do ser humano; oferece-nos, isto sim, reflexões e dados de pesquisa sobre os vários aspectos de desenvolvimento.
- Vygotsky também enfatiza a importância dos processos de aprendizado. Para ele, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é “um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas”. Há um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam.
- A concepção de que é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos dos indivíduos liga o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o meio ambiente sócio-cultural em que vive e sua situação de organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos da sua espécie. E essa importância que Vygotsky dá ao papel do outro social no desenvolvimento dos indivíduos cristaliza-se na: formulação de um conceito específico dentro de sua teoria, essencial para a compreensão de suas idéias sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizado: o conceito de zona de desenvolvimento proximal.

O CONCEITO DE ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL


- Nível de Desenvolvimento Real - Capacidade de realizar tarefas de forma independente.
- Nível de Desenvolvimento Potencial - Capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou companheiros mais capazes.
- A possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência de outra é fundamental na teoria de Vygotsky:
1º) Porque representa, de fato, um momento de desenvolvimento: não é qualquer indivíduo que pode, a partir da ajuda de outro, realizar qualquer tarefa. A capacidade de se beneficiar com uma colaboração de outra pessoa vai ocorrer num certo nível de desenvolvimento, mas não antes.
A idéia de nível de desenvolvimento potencial capta um momento do desenvolvimento que caracteriza não as etapas já alcançadas, já consolidadas, mas etapas posteriores, nas quais a interferência de outras pessoas afeta significativamente o resultado da ação individual.
2º) Porque atribui extrema importância a interação social no processo de construção das funções psicológica humanas. O desenvolvimento individual se dá num ambiente social determinado e a relação com o outro, nas esferas e níveis da atividade humana, é essencial para o processo de construção de ser psicológico individual.
- É a partir da postulação da existência desses dois níveis de desenvolvimento (real e potencial) que Vygotsky define a Zona de Desenvolvimento Proximal como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sobre a orientação de um outro mais capaz.
- Zona de Desenvolvimento Proximal - caminho que o indivíduo vai percorrer para desenvolver funções que estão em processo de amadurecimento e que se tornarão funções consolidadas, estabelecidas no seu nível de desenvolvimento real. A Zona de Desenvolvimento Proximal é, pois, um domínio psicológico em constante transformação. Interferindo constantemente na Zona de Desenvolvimento Proximal das crianças, adultos e crianças mais experientes contribuem para movimentar os processos de desenvolvimento dos membros imaturos da cultura.

O PAPEL DA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

- Nas sociedades letradas a escola tem um papel central no desenvolvimento das pessoas.
- A implicação da concepção de Vygotsky para o ensino escolar é imediata. Se o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, a escola tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Mas o desempenho desse papel só se dará adequadamente quando, conhecendo o nível de desenvolvimento dos alunos, a escola dirigir o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando realmente como um motor de novas conquistas psicológicas.
- O processo de ensino e aprendizado na escola deve ser construído tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança (num dado momento e com relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido) e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pela escola, adequados à faixa etária e ao nível de conhecimento e habilidades de cada grupo de crianças. O percurso a ser seguido nesse processo estará balizado também pelas possibilidades das crianças, Isto é, pelo nível de desenvolvimento potencial.
- O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal de seus alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. “O único bom ensino, afirma Vygotsky, é aquele que se adianta ao desenvolvimento”.
***Alunos são heterogêneos.
***Professor é um mediador.
***Nas situações informais de aprendizado os sujeitos utilizam as interações sociais como forma privilegiadas de acesso à informação.
*** Qualquer modalidade de intervenção social, quando integrada num contexto realmente voltado para a promoção do aprendizado e do desenvolvimento, pode ser utilizada, de forma produtiva, na situação escolar.
- Ao enfatizar o papel da intervenção no desenvolvimento, Vygotsky aponta que o objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento da pessoa, e não propor uma pedagogia diretiva, autoritária. Este autor trabalha com a idéia de reconstrução, de reelaboração, por parte do indivíduo, dos significados que lhe são transmitidos pelo grupo cultural. A constante recriação da cultura por parte de cada um dos seus membros é a base do processo histórico, sempre em transformação, das sociedades humanas.
- Ligado, mas não restrito aos procedimentos escolares, o mecanismo da imitação não é uma mera cópia de um modelo. É a reconstrução individual daquilo que é observado nos outros. Essa reconstrução é balizada pelas possibilidades psicológicas da criança que realiza a imitação e constitui, para ela, criação de algo novo a partir do que observou do outro. A atividade imitativa não é mecânica, mas sim uma oportunidade de a criança realizar ações que estão além de suas próprias capacidades, o que contribuiria para o se desenvolvimento. Só é possível a imitação de ações que estão dentro da zona de desenvolvimento proximal do sujeito. A imitação pode ser utilizada em situações de ensino e aprendizagem como forma de permitir a elaboração de uma função psicológica no nível interpsíquico (coletivo, social) para que mais tarde essa função possa ser internalizada como atividade intrapsicológica ( interna ao próprio indivíduo).


BRINQUEDO E DESENVOLVIMENTO

- Considerado como domínio da atividade infantil o brinquedo tem claras relações com o desenvolvimento.
- O brinquedo é também uma atividade regida por regras.
- Em uma situação imaginária (“faz-de-conta”) a criança é levada a agir num mundo imaginário, onde a situação é definida pelo significado estabelecido pela brincadeira e não pelos elementos reais concretamente presentes.
- O brinquedo provê uma situação de transição entre a ação da criança com objetos concretos e suas ações com significado.
- São exatamente as regras da brincadeira que fazem com que a criança se comporte de forma mais avançada do que aquela habitual para a sua idade.
- O que na vida real é natural e passa desapercebido, na brincadeira torna-se regra e contribui para que a criança entenda o universo particular dos diversos papéis que desempenha.
- Tanto pela criação da situação imaginária, como pela definição de regras específicas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. Na brincadeira a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades de vida real e também aprende a separar objeto e significado.
- A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento da criança em brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola, e principalmente a educação infantil, pode se utilizar desse tipo de situação para atuar no desenvolvimento dos alunos.

Para saber +


Download Vigotsky


Bibliografia
OLIVEIRA, Marta Kohl de. VYGOTSKY – Aprendizado e Desenvolvimento Sócio-histórico. São Paulo: Scipione Ltda.: Vozes, 1993.

Documentário encontrado em Café Filosófico

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é sempre bem vindo! Comente, opine, se expresse! Este espaço é seu! Prometo responder você assim que possível...
Espero que tenha gostado do blog e que volte sempre!

"Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes". (Paulo Freire)