quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Administração Escolar e Transformação Social

1) Mesmo que muitas vezes os problemas educacionais sejam analisados como se fossem de ordem administrativa (aplicação de verbas, incompetência das pessoas etc...), quais são as características específicas da Administração Escolar? Explique. 

A administração Escolar tem características semelhantes a da administração Geral e realiza-se no seio de uma formação econômico-social. No entanto, diverge das empresas em geral, pois visa fins de difícil identificação e mensuração, tem um caráter de prestação de serviços e é a mão de obra que possui participação relativa mais elevada, o que não ocorre na empresa, que tem grande participação relativa das máquinas e demais meios de produção em geral. Estes são aspectos que devem ser considerados ao aplicar a administração empresarial na escola para que esse processo se realize com êxito.

2) A administração capitalista é constituída por procedimentos gerenciais (controle do trabalho alheio) e conteúdo técnico (alternativas econômicas e eficientes com fins ao alcance dos objetivos). Como esse tipo de administração é implementada nas escolas, qual o enfoque predominante e quais as conseqüências para a atividade pedagógica? 

Administração capitalista é constituída por procedimentos gerenciais e conteúdo técnico, foi implantada na escola com o objetivo de atender os interesses da classe dominante, isso é perceptível na escola através das normas técnicas administrativas, que visam alcançar altos índices de produtividade, e que a instituição escolar assume para aprender em termos de eficiência e racionalidade, tornando a administração escolar atrofiada em numero excessivo de normas e regulamentos com a tributos meramente burocratizantes, desvinculados da realidade e inadequado a soluções de problemas; ao implantar na escola regras de organização empresariais entende-se que os problemas são causados por falta de recursos e com aumento dos recursos esses problemas podem ser facilmente resolvidos, se não forem a culpa é da administração que não pode ser considerada boa.
Entretanto, esse tipo de administração reduz o sentido pedagógico característico da escola, conforme a classe dominante passou a destinar menos recursos para as escolas públicas, as salas foram ficando cada vez mais cheias, os recursos didáticos ficaram cada vez mais precários e insuficientes, o professor e o quadro geral dos funcionários teve seu salário diminuído causando a baixa qualidade do ensino.

3) Qual o papel do diretor de escola (educador x gerente) e quais, de acordo com o texto, são as pressões que ele sofre? Por que o autor reforça a idéia que a Administração Escolar é conservadora? 

O diretor da escola está no topo da hierarquia da escola, cabe a ele a ultima palavra a ser dada, como representante da lei no ambiente escolar, cabe a ele a supervisão e o controle das atividades, para isso cada funcionário tem suas funções delimitadas que no sistema hierárquico burocratizado facilitam a controle e cobrança das tarefas atribuídas.
Na administração escolar o diretor é responsável por duas funções que em principio são inconciliáveis, a primeira refere-se ao seu papel de educador que atribui-lhe a tarefa de buscar os objetivos educacionais da escola; a segunda refere-se ao seu papel de gerente que o torna o responsável pela instituição escolar que o fazem cumprir com as determinações de emanadas dos órgãos superiores do sistema de ensino, esses órgãos bombardeiam a escola com leis, resoluções, portarias, regulamentos, etc. Dessa forma o diretor dispõe de um tempo considerável de seu trabalho para atender essas formalidades burocráticas, e ainda encontra obstáculos legais para soluções de vários de seus problemas.
Assim o diretor também se vê pressionado de dois lados, o primeiro enquanto as reivindicações dos professores e pessoal da escola na busca por melhorias de condições de trabalho que promovam a melhoria do ensino, o outro lado diz respeito às pressões feitas pelo Estado que pede o cumprimento dos regulamentos e determinações da escola.
A impotência do diretor em resolver os problemas da escola articula-se como papel de gerente que o Estado lhe reserva, por isso a escola tem a função administrativa conservadora, pois nos mecanismos de gerencia percebem-se as ineficiências de buscar seus objetivos educacionais.

4) Qual é a natureza do trabalho realizado na escola (distinguir escola pública e escola privada)? É trabalho produtivo ou improdutivo? Explicar esses conceitos. 

A escola tem como objetivo distribuir o saber historicamente acumulado, nesse sentido a natureza do trabalho realizado na escola é não material, pois está voltado a produção de ideias, divulgação da cultura, e não produz um produto em um momento que é consumido em outro momento, essa é uma característica da educação escolar, entretanto na escola privada existe um trabalho produtivo, pois nas relações estabelecidas nesses estabelecimentos, gera mais valia , pois o valor das mensalidades junto com as horas de trabalho de cada professor e funcionário geram a mais valia para o dono da escola.
Enquanto na escola pública há um trabalho improdutivo pois o dinheiro para manter a escola vem dos impostos e não gera-se mais valia nesse processo.

5) Se o modo de produção capitalista não pode aplicar-se de forma plena na escola em virtude da natureza da educação, situe: 
a) Papel do educando (como matéria-prima, consumidor, co-produtor). 
b) Produto da ação educativa. 
C) Natureza do saber envolvido no trabalho escolar (que não pode ser expropriado do trabalhador).

Por conta da função pedagógica da educação o modo capitalista não pode aplicar-se de forma plena na escola para entender isso é preciso observar os seguintes aspectos:
a) Papel do educando - o aluno na perspectiva capitalista é tanto matéria prima, consumidor e co produtor, seu papel de matéria prima se dá ao observá-lo como o produto que será transformado no final do processo, acontece que ele também situa-se como consumidor já que é o aluno quem consome a aula que o professor está lecionando, dessa forma percebe-se que não existe uma separação entre produção e consumo; seguindo esse raciocínio podemos perceber o papel do aluno também como co produtor, pois se o consumidor não separa-se da produção, entende-se que a aula acontece com a presença do professor e do aluno que não está apenas presente, e sim participando, logo ele colaborou na produção da aula.
b) Produto da ação educativa - a aula é considerada o produto da ação educativa, mas ao considerar o aluno objeto e sujeito da ação educativa faz necessária uma reflexão mais profunda sobre isso, afinal no momento da aula o sujeito “consome” alguns conhecimentos e alguns fatores se prolonga para além do momento da aula, identificando que o consumo da aula não é apenas imediato, outro fato relevante diz respeito aos mecanismos de avaliação da qualidade dos produtos, no capitalismo se um produto não satisfaz os consumidores eles se inclinam aos concorrentes, no caso da aula, o aluno não possui um mecanismo de sanção tão eficiente, no caso dos discentes do ensino privado ainda há uma certa margem de pressão direta quando não se sentem satisfeitos, pois afinal estão pagando, enquanto que os discentes do ensino público não se manifestam porque quase nunca agem como consumidoras, pois lhes falta consciência que indiretamente pagaram pelo produto, pois pagam impostos.
c) Natureza do saber envolvido no trabalho escolar - no processo de produção capitalista um meio de garantir a produção é a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, no caso do saber envolvido no processo escolar isso não pode ocorrer, pois o professor precisa ter conhecimento daquilo que vai ensinar sendo isso uma característica essencialmente pedagógica, a divisão nesse sentido não pode acontecer na escola.

6) Explique os pressupostos básicos de uma Administração Escolar comprometida com a transformação social:
a) especificidade da Administração Escolar (que deriva dos objetivos da escola e da natureza desses objetivos
b) Racionalidade social (racionalidade social: escola determinada socialmente – racionalidade externa).
c) Racionalidade interna – integrar discurso com a práxis – na busca efetiva dos fins propostos.
d) Participação coletiva – administração democrática.
e) Consideração das condições concretas – criar as condições concretas de participação; buscar a racionalidade técnica e cumprir sua função política.

A administração escolar pode colaborar para a transformação social, e isso pode ser observado ao analisarmos os seguintes pressupostos:
a) Especificidade da Administração Escolar - comprometida com os interesses da classe dominada, a administração escolar democrática tem como características os objetivos que se busca alcançar com a escola e processo que envolve essa busca, compromete-se com a apropriação do saber e da consciência critica.
b) Racionalidade Social - a própria racionalidade interna existe para função de executar os objetivos, mas para que os objetivos da educação sejam alcançados há uma transcendência dos limites da escola, pois o que se realiza na escola tem repercussão na vida do todo social, podemos verificar assim a racionalidade externa em termos de desempenho da escola. Esse é um aspecto que deve ser considerado, pois sabemos que a escola em seu discurso de neutralidade serve a atender os interesses da classe dominante, é nesse ponto que percebemos que a ação administrativa pode servir para conservar a realidade social ou para sua transformação, nesse nível é que a racionalidade se manifesta externa.
c) Racionalidade Interna – a administração escolar preocupada com a transformação social possui objetivos que buscam atender os interesses da classe trabalhadora, para isso é necessário que ao se determinar os objetivos que visam à transformação social, haja uma busca constante no intuito de alcançar esses objetivos, pois a prática administrativa torna-se conservadora por manter os objetivos apenas no nível do discurso. A intenção da racionalidade interna nesse caso é integrar o discurso da prática para alcançar o que está sendo proposto.
d) Participação Coletiva - a busca de integrar o discurso a prática, é um aspecto que diferencia esse tipo de administração da conservadora, nesse sentido é necessário uma gestão democrática, pois assim serão considerados todos os agentes envolvidos no processo educativo, partindo do quadro de funcionários, dos alunos, até a comunidade, o diretor preocupado com a escola revolucionária, através do dialogo entende as necessidades individuais e coletivas da comunidade e busca superá-las ao integrar nos objetivos da escola, ao mesmo tempo vai progressivamente ajudando a comunidade a tomar consciência de sua condição social, aspectos que os contemplem tornando a escola mais democrática, assim o poder não estará centrado em um individuo que controla os demais e sim em um grupo de pessoas com interesses semelhantes. O autor esclarece que as condições para que essa administração com participação coletiva aconteça não está pronta, é preciso encontrar os meios pra que isso aconteça, tendo em vista o que concretamente é possível fazer. Essa prática administrativa reforça a democratização interna e também o fortalecimento da unidade escolar externamente.
e) Consideração das Condições concretas - fundamentando a participação recíproca entre todos os setores envolvidos na participação democrática da escola, percebemos a necessidade de considerar as condições concretas tanto na escola como na sociedade em que essa escola está inserida, é preciso partir da realidade para alcançar os objetivos da administração democrática, envolvendo pouco a pouco o maior numero de pessoas para que essa prática aconteça.
Considerar por exemplo as condições de trabalho dos pais dos alunos, porque assim entende-se que pela sua jornada de trabalho, um encontro em uma reunião com o professor já é algo consideravelmente difícil de ser realizado, quanto mais participar de reuniões com diretor e outros setores da escola para discutir assuntos que ele não compreende como os de seus interesses. Por isso a necessidade de entender a situação da comunidade que está ao derredor da escola, fazê-los perceber que seus interesses estão ligados aos interesses da escola. Para alcançar os objetivos da escola revolucionária os professores precisam ter essa consciência critica da realidade, para não utilizarem o falso discurso da neutralidade política ajudando a eliminar a dominação de uma classe sobre as demais e consequentemente as desigualdades sociais.


Referência 
PARO, Vitor Henrique. Administração Escolar: Introdução Crítica. 11ª ed.  São Paulo: Cortez, 2002

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