quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Trabalho "Os Pilares de Vigotsky"

Introdução

Vigostsky viveu na Rússia pós-Revolução, buscava uma ”Nova Psicologia”, uma ligação entre a produção científica e o regime social, ou seja, uma síntese entre psicologia como ciência natural e psicologia como ciência mental.
Numa mesma perspectiva o homem enquanto corpo e mente; ser biológico e ser social, membro da espécie humana e participante de um processo histórico.
Vigotsky explícita nessa “Nova Psicologia” os pilares básicos de seu pensamento que são o suporte biológico, as relações sociais e a mediação simbólica que serão devidamente analisados e relacionados com outros autores ao longo desse trabalho.

Falando do Suporte Biológico

De acordo com Vygotsky o homem possui suporte biológico, que serve inclusive para indicar características especificas da espécie humana. Entretanto existem aspectos físicos e biológicos que podem ser variáveis, ou seja, algumas de nossas estruturas biológicas se modificam de acordo com o processo social e cultural da humanidade.
Há milhares de anos atrás, por exemplo, o homem andava como os outros animais e, conforme ele foi se modificando, influenciado pela natureza e pelo meio social, a sua postura para caminhar foi sendo alterada, até chegarmos ao ponto em que nos encontramos hoje.
No livro “O Planeta Eu”, das autoras Liliana Iacocca e Michele Iacocca, podemos perceber essas mudanças físicas e biológicas, confirmando a teoria de Vygotsky. Para ele as mudanças do corpo do ser humano também não são causadas apenas pelo cérebro, mas por todas as mudanças do meio social em que o sujeito está inserido.
Neste mesmo livro as autoras mencionam as diferenças nas transformações ocorridas no corpo durante a adolescência mostram a importância de conversar sobre esses assuntos e das diferenças culturais em relação a algumas questões erroniamente ligadas à sexualidade.
Tomás, um dos personagens do livro, pergunta ao pai porque as mulheres usam saia e os homens não. A resposta do pai é muito importante, pois ele diz que:
“O jeito de se vestir e de enfeitar o próprio corpo foi surgindo com os costumes que vêm através dos tempos. Isso não são diferenças sexuais, são aparências do homem e da mulher em cada época. Você sabia que em certos países também os homens usam saias?” (IACOCCA, 2003, p. 7).
A partir desse trecho do livro podemos perceber que as estruturas biológicas já diferenciam o homem da mulher, pois as autoras tratam inclusive das mudanças ocorridas no corpo de cada um na adolescência. Já a fala do pai de Tómas, nos mostra que as diferenças na forma de se vestir surgiram com o tempo e se modificam de acordo com os costumes. Para Vygotsky essas diferenças biológicas já determinaram as diferenças entre homens e mulheres e as relações que são de níveis sociais e culturais, os diferentes costumes foram alterando os valores estabelecidos em determinado momento para o homem e para a mulher. Isto é o que Vygotsky chamaria de desenvolvimento sociogenético, ou seja, à influência que o individuo sofre ocasionado pela sociedade.
Percebemos assim que, tanto para as autoras do livro, quanto para Vygotsky, o cérebro não é o único fator responsável pelas diversas características da humanidade, pois as relações sociais são também responsáveis, inclusive por pequenas mudanças de aspecto biológico. A forma como o “homem” se relaciona com o meio pode também influenciar as estruturas biológicas do ser humano.

O homem e as Relações Sociais

Para Vygotsky as relações do homem com o meio são dialéticas, isso quer dizer que o homem influência a sociedade em que vive, tanto quanto a sociedade influência o homem. Desta forma ambos modificam e são modificados nessa relação.
No livro Cidadania no Brasil - O longo caminho, 2003, do autor José Murilo de Carvalho, percebemos claramente esse processo, pois, em cada movimento social a favor dos direitos pelos quais lutavam, como por exemplo, os direitos políticos, os cidadãos tinham como objetivo modificar a sociedade injustiçada naquele momento.
O autor José Murilo de Carvalho menciona no livro a historia de Antônio Conselheiro, que foi um líder carismático e messiânico, ele reuniu milhares em uma comunidade de Santos onde as práticas religiosas tradicionais seriam preservadas e onde todos poderiam viver irmanados pela fé; Antônio Conselheiro discordava da separação entre Igreja e Estado, e resolveu modificar a sociedade com a criação de “Canudos”, o governo, entretanto destruiu a comunidade a poder de canhões, em nome da República e da modernidade.
Percebemos assim, como Vigotsky que a ação do homem modifica a sociedade e a sociedade modifica o homem; o livro também mostra a sociedade interferindo na vida do homem quando em 1904 no Rio de Janeiro, quando a falta de saneamento básico estava causando doenças nos moradores dos cortiços, o governo que ao mesmo tempo estava preocupado com a urbanização da cidade, iniciou o combate a varíola, entretanto muitos estavam morrendo com o efeito da vacina, mesmo assim criou-se uma lei que tornará a vacinação obrigatória; o resultado foi instantâneo, milhares de cidadãos foram as ruas protestar contra essa obrigatoriedade.
Observamos nos parágrafos acima que a sociedade interferiu nos direitos de muitos e que alguns lutaram por esses direitos “O mundo existe para o homem na medida do conhecimento que o homem tem dele e da ação que exerce sobre ele” (RIOS, 1997, p. 31), o mundo está dentro do homem e dele resulta.

As Mudanças por Instrumentos e Sistemas Simbólicos

Para Vygotsky a transformação da natureza ficou mais fácil, a partir do momento que o homem criou as relações de trabalho como diz a teoria Marxista. Para que essas relações se estabelecessem foi necessária a criação de instrumentos de trabalho.
Os instrumentos facilitam a ação do homem sobre a natureza, o homem passou não só a dominá-la, mas também a transformá-la. Esses instrumentos são extracorpóreos, ou seja, não fazem parte do aspecto físico do homem, esses instrumentos servem para mediar à relação do homem sobre a natureza e também para mediar às relações com os outros indivíduos.
No livro Ética e Competências, 1997, da autora Terezinha Azerêdo Rios, ela diz que o professor é um mediador no processo de ensino – aprendizagem, pela teoria de Vygotsky podemos dizer que o aluno tem seu nível de desenvolvimento real e que pode alcançar o seu nível de desenvolvimento potencial. Para que o aluno alcance o nível de desenvolvimento potencial, ele precisa de auxílio, o professor então atuará na zona de desenvolvimento proximal desse aluno para que ele consolide o seu conhecimento estabelecendo o aprendizado na zona de desenvolvimento real.
Quando o professor for atuar nessa mediação, ele irá utilizar instrumentos extracorpóreos, que são modificados de acordo com a necessidade, como por exemplo, giz, vídeos, caneta, papel e etc.
Terezinha Rios diz que “ensinar bem os conteúdos, utilizando recursos adequados é uma das tarefas do educador competente que pretende formar um cidadão atuante a consciente.” (p. 69)
O professor deve utilizar diversos recursos para mediar o processo de ensino, que aqui podemos chamar de instrumentos. Segundo Vygotsky essa mediação também é feita através de sistemas simbólicos, que foram criados praticamente ao mesmo tempo em que os instrumentos.
Os sistemas simbólicos são compostos por:
· Signos - imagens mentais de representação
· Significante - fala, escrita, gestos e etc.
· Significado - que são atribuídos de acordo com a realidade de vida cada indivíduo, por exemplo, quando pensamos em uma casa surgem diferentes imagens, cada indivíduo tem sua própria representação mental de uma casa, alguns vão pensar em lar outros em uma casa térrea ou sobrado porque está atribuindo significado de acordo com sua vivência.
Os sistemas simbólicos dão sentido no momento da relação mediadora, pois o professor, por exemplo, utiliza a fala, a escrita e os gestos. Os exemplos utilizados em aula atribuem significado para simplificar o entendimento dos conteúdos.
“Ao organizarmos projetos, planejarmos o trabalho que temos intenção de realizar, lançamos-nos para diante, olhamos para frente. É isso que garante a significação do processo histórico”. (p. 45) Nesse ponto percebemos que o professor que serve no processo de ensino como mediador, deve preocupar-se em preparar a aula com um objetivo, pois as aulas devem ser significativas para os alunos.
O significado de cada conteúdo também será influenciado de acordo com as experiências de vida de cada aluno, propiciando um entendimento individual que podemos chamar de saber.
Assim tanto para Vygotsky como para Terezinha Azerêdo Rios, a medição através dos instrumentos e por sistemas simbólicos, facilitam a aprendizagem por utilizarem a memória e auxiliarem a controlar a atenção. Os medidores: instrumentos e sistemas simbólicos sofrem transformações ao longo do tempo, o que mostra ao professor que nada é estático, e que procurar diferentes e novas maneiras de aplicar o mesmo conteúdo é algo que ele pode e deve fazer.

Referências

IACOCCA, Liliana; Michele. O planeta eu – Conversando sobre sexo. São Paulo: Ática, 2003.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e Competência. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 1997.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. VYGOTSKY – Aprendizado e Desenvolvimento Sócio-histórico. São Paulo: Scipione Ltda.: Vozes, 1993.

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