sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Resumo do Livro "A Língua de Eulália"


A Língua de Eulália

Vera, Sílvia e Emília são professoras de uma escola em São Paulo e estudantes universitárias de letras, psicologia e pedagogia respectivamente. Elas foram passar as férias na cidade de Atibaia e ficaram hospedadas na casa da tia de Vera que se chama Irene que é linguista e está escrevendo um livro sobre variação linguística.
Já devidamente acomodadas, durante o almoço, as três visitantes percebem os “erros” de português de Eulália que é empregada e amiga de Irene, ao pronunciar, por exemplo, “os probrema”, “os fósfro”. A partir daí a tia de Vera começa a ensinar os fenômenos da língua e explicar a lógica de funcionamento das variedades linguisticas para combater o preconceito linguístico.
Dessa forma Irene vai explicando que não existe uma única língua, mas várias que devem ser respeitadas, pois o português não-padrão falado por Eulália tem uma lógica que pode ser explicada cientificamente e permite o entendimento de uma mensagem.
Irene esclarece através de seus quadros explicativos as diferenças do português- padrão e não-padrão, por exemplo, que o português padrão é artificial porque requer aprendizado, memorização das regras ao passo que o não-padrão é natural porque segue as tendências naturais da língua, criando regras que são automaticamente respeitadas pelo falante.
O português não-padrão diminui regras gramaticais como o plural, a concordância e a conjugação verbal, por exemplo, ao invés de marcar todas as palavras de uma frase para indicar um número de coisas maior que um acaba marcando apenas uma palavra como em “As garça dá meia volta” (pág.51). Este processo acontece na norma padrão de outras línguas como o inglês e o francês que escreve as marcas de plurais, mas não as pronuncia. Entretanto não há nada que impeça a compreensão, portanto se torna eficaz.
No desenvolver dessa novela sociolingüística vamos conhecendo vários fenômenos lingüísticos, por exemplo, o rotacismo que é a troca de L por R que pode ser explicado através da origem das palavras no latim; o yeísmo que é a troca de LH por i devido à comodidade maior de pronunciar o i; a assimilação de ND em N e de MB em M com em falando que passou a falanno e depois falano, pois o som dessas consoantes é próximo; a redução que ocorre quando as vogais E e O são pronunciadas como i e U; contração das proparoxítonas em paroxítonas que ocorre também na norma padrão, visto que as palavras proparoxítonas em latim passaram a ser paroxítonas no português padrão; o arcaísmo que ainda permanece em regiões afastadas das metrópoles brasileiras; a analogia que causa a mudança de classe gramatical de algumas palavras por causa do som de uma vogal e o caso do pronome oblíquo mim que vem sendo um “erro” cometido desde 1872 como ficou registrado no romance Inocência, escrito pelo Visconde de Taunay, sendo muitas vezes usado pelos falantes da norma culta, pode ser explicado, dentre outras maneiras, pelo fato do pronome mim ser tônico e procurar enfatizar a oração como em “João trouxe um monte de livros para mim escolher” (pág. 182).
Com todos esses fenômenos a língua torna-se mais complexa e novas regras vão sendo criadas pelo inovador português não-padrão.
Após o livro abordar e explicar através de exemplos todos esses fenômenos podemos perceber que do ponto de vista lingüístico não existe erro, mas sim o adequado e o inadequado, assim é necessário que o ensino do português-padrão seja voltado para linguistica para que o cidadão perceba a importância de adequar a sua forma de comunicação em diferentes contextos, permitindo-lhe o acesso as práticas sociais de leitura e escrita e que se faz necessário desvelar o mito da língua única, mencionando o seu valor social e abordando temas como variantes lingüísticas e fenômenos da língua para evitar o denominado preconceito linguístico.

Análise do processo de alfabetização de Eulália

A Eulália foi alfabetizada no português-padrão quando tinha mais de quarenta anos, sabe ler e escrever, mas continua empregando no dia-a-dia a variedade não-padrão que é a língua materna dela. Usada pelas pessoas de sua família e de sua classe social. Irene dava aulas durante a noite para Eulália que foi trazendo algumas conhecidas que trabalhavam nas casas do bairro onde ela mora.
A professora valoriza a língua materna, faz reflexões sobre a variedade lingüística falada pelas classes sociais menos favorecidas e estuda o assunto a fim de obter uma lógica de funcionamento. Irene demonstra empatia, sensibilidade e solidariedade buscando perceber as dificuldades do aluno.
As primeiras aulas que ela dá as suas visitantes, acontecem em um ambiente não formal diante de uma lareira com todas sentadas num tapete com várias almofadas propiciando uma certa cumplicidade e interação. Depois as aulas são desenvolvidas em um cômodo, a “escolinha” onde existe uma grande lousa, as paredes são verdes e tem uma estante com livros, cadernos, canetas e caixas de giz, e meia dúzia de mesinhas de madeira com as respectivas cadeiras, dispostas em semicírculo facilitando o trabalho coletivo diante do quadro-negro e criando um ambiente aconchegante onde os alunos podem falar olhando uns para os outros.
Irene demonstra humildade deixando claro que não é a única capaz de ensinar alguma coisa, pois toda pessoa sempre tem algo de interessante, de importante para transmitir aos outros. Uns tem conhecimentos acadêmicos, livrescos e outros experiências de vida, valoriza os conhecimentos prévios do aluno e verbaliza que aprendemos todos os dias uns com outros mesmo em situações informais “a Eulália é um poço sem fundo de conhecimento e sabedoria. Todo dia aprendo uma coisa nova com ela” (pág. 12). Instiga a curiosidade e faz as alunas pensarem sobre perguntas que deixa para próxima aula, como um capítulo que se acaba antes do beijo entre os protagonistas tão esperado pelos telespectadores.
A linguista utiliza desenhos para explicar a distância entre as normas mais culta e menos culta do idealizado português-padrão, cita exemplos, faz comparações por meio de diversos quadros que permitem a análise das modificações que a língua passou do latim para o português-padrão e entre outras línguas como o inglês, francês e o espanhol. Ela explica a importância de chamar a “atenção dos alunos para complexidade dos fenômenos da língua, em vez de ter um ataque sempre que algum deles diz algo errado, segundo a norma culta” (pág.187), ou seja, incluir na sua prática de ensino atualidades não se restringir a repetição de métodos para o ensino da língua.
Entende- se que Irene utilizou esses métodos para alfabetizar a Eulália durante o dia-a-dia, elas foram compartilhando o conhecimento que possuem. Eulália socializou o seu conhecimento de mundo, os cuidados que se deve ter com as plantas, fórmulas caseiras de remédios à base de plantas medicinais, histórias tradicionais, contos populares, cantigas folclóricas e etc., e Irene ensinou de maneira crítica a língua portuguesa para Eulália, ou seja, ela explicou a variedade lingüística padrão e o seu valor social, por isso a Eulália continua a usar sua variedade na esfera do seu lar, com sua família e amigos sabendo que se deve adequar a fala ao ambiente em que estamos e que existe apenas uma forma de escrever que é o português-padrão.

Bibliografia
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2008.

11 comentários:

  1. Acredito sim que a comunicação é o fator de maior relevância no viver social, entretanto ressalto aqui que se há até hoje um "destrato" linguístico que me incomoda demasiadamente. Eu estudo e conheço muitas regras, mas irrito-me inteligivelmente quando sou corrigido nos erros de português e quando o faço sou visto como cruel, então sinceramente desconsidero tais padrões permissíveis à língua, não falou direito então está errado e muito errado.

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  2. Devemos saber adequar a fala ao ambiente de convívio e ter conhecimento do português padrão, pois é este que nos será cobrado nas ocasiões formais e na escrita. O preconceito com a linguagem tem mesmo, mas como pedagogos devemos saber relacionar o português não padrão que muitos indivíduos utilizam, inclusive nós em alguns momentos,com o português padrão respeitando a linguagem dos sujeitos e ampliando seus conhecimentos para que se conscientizem também da importância de se apropriar da norma culta que sempre será cobrada na sociedade letrada.

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  3. Oi Gostei muito desse espaço.... será que poderia me add no face? Para trocarmos ideias... Beijinhos

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    1. Carla, fico feliz que tenha gostado, adiciono sim. Agora que estou de férias pretendo atualizar o blog, por isso apareça mais vezes bjs

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  4. Esse texto me ajudou muito na prova; após ler o livro fiz algumas anotações e me baseei nos pontos aqui destacados. Obrigada por compartilhar conosco sua análise da obra.

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  5. Querida Catia,

    Parabéns pela útil postagem, que muito ajuda a estudantes que não tem tempo que fazer um bom resumo de suas leituras.
    Saber é compartilhar, é dando que se recebe e você tenha certeza que a vida já está lhe dando muito retorno desta sua doação.

    Boa Semana!

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  6. katia minha prova será amanha como não deu tempo de ler o livro todo,vou me basear no seu resumo.
    Muito obrigada por doar seu precioso tempo a nós estudantes.

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  7. De nada, Keyla Sousa. É interessante que você procure ler o livro assim que tiver uma oportunidade, pois ler um resumo pode ajudar momentaneamente, mas para agregar os saberes é preciso que eles tenham alguma significação para você e esta só pode ser obtida a partir de sua própria leitura. É uma dica :) Volte sempre, bjs.

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